segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Realidade informativa


O Luta & Resiste continua a providenciar a todos os seus leitores o serviço público desta feita, de transcrever não totalmente na íntegra a entrevista que Vukecevic deu ao jornal Abola a 28 de Dezembro de 2007:

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O Clube:

Record -Como está a ser a experiência no Sporting?
Vukcevic -Não sei o que dizer. Estamos em 3ºlugar na Liga e não esperávamos isso. Mas penso que tudo vai correr bem, pois temos meio ano para mudar as coisas....
Nada está ainda decidido. Penso que temos boas chances de ser campeões.

R- Mantem a opinião de que o Sporting é o maior clube portugês?
V- Claro! Pensava isso quando cheguei e vou sempre pensar da mesma forma. Depois de alguns meses aqui em Portugal não mudei a minha opinião.

R- O Clube superou as suas expectativas?
V- Estou muito feliz aqui. Tenho tudo o que preciso para dar sempre o melhor em todos os treinos e jogos. O clube tem tambem grandes adeptos e um grande treinador. Estou feliz com toda a gente que aqui trabalha.

R- Mas é mais ou menos do que aquilo que esperava?
V- Mais, sem dúvida! É um dos dez melhores clubes da Europa!

(....)

A atitude:

R- Mesmo quando não joga bem toda a gente elogia a sua entrega. Aque se deve essa atitude?
V- É simples: tennho a minha forma de jogar. Primeiro entro só para ganhar. Para ganhar!

R- É obcecado pela vitória?
V- Sou!

R- Até na playstation?
V- oh[risos]...Não posso jogar...fico demasiado nervoso...Não sei perder!

R- Então aquela fase do Sporting má custou-lhe muito...
V- Se custou!

R- Dorme mal, quando perde?
V- Nem consigo dormir. Estou até ás 5 ou 6 hda manhã ás voltas na cama a pensar no jogo. Simplesmente não consigo dormir. Nem consigo explicar. Só quero é ganhar!

Critícas dos adeptos

O sporting passou por mau momento, cinco jogos sem ganhar, empates e derrotas comprometedores. E logo as críticas dos adeptos, principalmente da claque Juventude Leonina.

R- Estava habituado á pressão dos fanáticos adeptos do Partizan. Como reagiu ás críticas exarcerbadas depois do jogo com o Louletano?
V- Estava habituado a coisas daquelas na Juguslávia[risos]. Para mim foi tudo normal. Eles podem criticar. Mas posso dizer, e falo por mim, nunca, mas mesmo nunca, sou capaz de suportar uma derrota! Posso partir para uma luta contra 100 pessoas e não vou a pensar que a perco!
Pode acontecer um mau dia, em que não consegues marcar...Não podes ganhar sempre, eu sei, mas não suporto uma derrota.

R- Pensa que a reacção dos adeptos foi exagerada?
V- Talvez não tenha sido o momento certo, tínhamos ganho por 4-0... mas compreendi.

R- No Partizan passou por momentos mais dificeis?
V- Os adeptos do Partizan são fantásticos, gosto muito deles. Passei lá muitos anos é como uma segunda casa.

R- E pensas que vai conseguir conquistar de igual forma os adeptos do Sporting?
V- Claro!

R- No final do jogo com o Marítimo os adeptos cantaram o seu nome. Qual foi a sensação?
V- Quando as coisas não estão a sair, isso dá-me mais força para jogar. Se os adeptos cuidarem de mim posso fazer sempre mais alguma coisa.

R- E aquela reacção de devolver as camisolas?
V- Foi numa má altura e uma forma incorrecta de mostrar o desagrado. Mas compreendo o desalento dos adeptos. Eles querem ganhar, mas nós só ganhamos por eles.

Na vida

R- Algum filme o marcou mais?
V- Talvez o Cinderella Man, com o Russel Crowe. Também gostei muito de O Gladiador; Os condenados de Shawshank; Á espera de um Milagre; O Patriota; Braveheart...

R- A atitude guerreira que põe em campo tem inspiração no Braveheart?
V- Claro! Gosto desse tipo de filmes. E inspiro-me no campo.

R- Tem alguma personalidade que admire?
V- Não...mas gosto de James Braddock, o boxeur que emprestou a história para o Cinderella Man. É uma história verdadeira e admiro a pessoa que ele foi.

A revelação

R- É cinturão negro. O Karaté foi o primeiro desporto que praticou...
V- Quando era miudo, antes do futebol treinei Karaté durante um ano. Era mesmo bom, mas o meu pai disse-me que tinha de jogar futebol, que podia ser um grande jogador e blá, blá, blá [risos]...Eu não queria ir para o futebol. De ínicio até chorava no meio dos treinos.

R- Foi carrasco de Portugal no Europeu Sub-21, que se disputou no nosso País. O joão Moutinho estava nessa equipa, lembra-se dele?
V- Não joguei muito e não me lembro dele, já foi há algum tempo. E depois, eu relamente não gosto de futebol. Não gosto de ver futebol, mesmo quando é uma final da Liga dos Campeões, não vejo.

R- Só gosta de jogar?
V- Sim só isso.

R- Tem algum jogador que admire?
V- Não, não gosto de futebol...

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1906

Luta & Resiste

Realidade informativa


Não há Dezembro sem pais natal, renas e trenós, malta nos hipermercados e um caso Liedson.
Transcrevemos a entrevista que abriu o deste ano:


"Liedson da Silva Muniz. O 31 leonino, ídolo dos últimos anos em Alvalade pelos 102 golos que já leva nos cinco anos de leão ao peito, era repositor de supermercado e hoje, aos 30 anos, é estrela no mundo do futebol. Levezinho, Liedshow são as alcunhas que os adeptos leoninos lhe deram, ele que antes de chegar a Alvalade passou por Poções, Prudentópolis, Coritiba, Flamengo e Corinthians.

Recusando o rótulo de indisciplinado, Liedson diz que se sabe de mais em termos públicos do que se passa no balneário leonino e que, por vezes, o que se sabe não é verdade. No entanto, o Levezinho confirma que foi castigado por não ter querido treinar a marcação de grandes penalidades, mas diz que o castigo foi injusto. O atacante admite sair do Sporting, mas salienta que ainda não recebeu qualquer proposta concreta.

Vai completar cinco anos no Sporting e venceu apenas uma Taça de Portugal e uma Supertaça. Não acha pouco?

Claro que é pouco, sobretudo estando no Sporting, um clube grande. É pouco, não só pelo mérito das outras equipas, mas também pelas dificuldades cada vez maiores que o campeonato apresenta. Mas quero mais e espero ainda poder alcançar mais no Sporting

Mas pela quantidade de golos que marca e pelo que trabalha defensivamente e ofensivamente acredita que é a melhor montra para si?


Quando entro em campo tento fazer o melhor para o Sporting, marcando muito, pouco ou nada. Preciso mais da equipa do que ela de mim, mas ela também precisa de mim pela minha experiência. Estou cá há cinco anos e sou uma referência.

Completou 30 anos este mês. Considera que é a idade ideal para dar o salto para um campeonato maior?


Para ir para outro clube tenho de estar bem no Sporting. Se aparecer uma boa proposta, vamos sentar-nos, colocar as coisas na mesa e ver o que é melhor para todas as partes.

Teve alguma proposta?

A mim não chegou qualquer proposta. O meu empresário não me disse nada e eu pedi-lhe que só me dissesse quando fosse algo de concreto, porque não gosto de me iludir e já não tenho idade para ser iludido".

Vai então esperar pelo final da época. Será a altura ideal?

Pode ser. Mas estou preparado para sair ou continuar. Já tenho 30 anos, sinto-me bem aqui, mas às vezes temos de mudar de ares para mudar alguma coisa. Mas ainda não recebi nada. Se aparecer vamos conversar

O conflito com Vukcevic na Madeira está sanado?

Tudo sanado. É uma situação de jogo, os dois tentámos fazer o melhor para o clube. Por vezes, as ideias não batem e acaba por ser normal.

Tem registos de vários episódios de indisciplina que motivaram intervenção directa do técnico. O último foi ter-se recusado a treinar grandes penalidades. Não teme ficar com o rótulo de indisciplinado?


Não temo nada isso. Tento fazer o melhor para o clube e, por vezes, as pessoas não entendem assim. Se é ser indisciplinado dizer que não vou bater um penálti, porque deixei de os marcar nos jogos, ou isto aqui é uma ditadura ou um quartel-general. Se recusar bater um penálti é indisciplina, é complicado. Não quero atrapalhar o trabalho de ninguém e, se um dia achar que o estou a fazer, peço para me ir embora.

Mas ficou de fora na Taça por castigo...

Pois é, acho que fiquei de fora castigado injustamente

Estes episódios dificultam a sua saída para um clube maior?

Não, acho que não. Se as pessoas perceberem o fundo da questão, não. Por vezes não é o que sai na Imprensa. Também não sei porque é que sai tanta coisa aqui do Sporting para a Imprensa. Quando acontece algum episódio em que só estão jogadores e técnicos, não só este como outros, e passam duas ou três horas e toda a gente já sabe. O Sporting tem de ter cuidado com isso, porque estas coisas não podem ser divulgadas desta maneira, porque pode prejudicar um plantel. Tem de haver mais defesa do grupo, estas coisas resolvem-se com o grupo. Se alguém fizer alguma coisa tem de ser chamado e tem de se conversar com o grupo. Tem de ser entre a direcção, os técnicos e os jogadores.

Uma saída pode facilitar o acesso a uma selecção. A brasileira ou a portuguesa?

É um assunto delicado. Tenho passaporte brasileiro e o que me agrada neste momento é a selecção brasileira, porque tenho o passaporte brasileiro. Se um dia tirar o passaporte português e não for à brasileira e, se receber um convite de Portugal, ficaria muito feliz. Mas o objectivo maior é, sem dúvida, a brasileira. Mas a portuguesa agradava-me muito. Ninguém me procurou ou me disse nada acerca disso.


"Sete anos sem ganhar é muito tempo"

Esta época tem sido marcada pela irregularidade da equipa. Deve-se a quê?


É complicado dizer o que a provoca. Temos um plantel muito jovem. Por vezes fazemos as coisas bem e, no final, o resultado não tem nada a ver com aquilo que imaginámos. Estamos a tentar inverter a situação, que não é boa, mas já esteve pior. Estamos a melhorar jornada a jornada.

Nesta altura, o F. C. Porto é inalcançável?


Não, claro que não. Temos consciência da vantagem que tem, que é muito confortável, mas nada está decidido. Temos toda a segunda volta pela frente. Mas primeiro temos de pensar no segundo lugar, Queremos alcançar e passar o Benfica e depois, jogo a jogo, tentar encurtar e eliminar essa diferença.

Acredita ainda na conquista do título?


Claro que sim. Sabemos que não dependemos de nós, isso dificulta muito a tarefa, mas estamos tranquilos e cientes do nosso valor. Temos de torcer pelos tropeções dos adversários, mas temos esperança

Nos cinco anos que leva de Sporting viu o F.C. Porto conquistar três campeonatos e o Benfica um. Que diferença há do F. C. Porto para os restantes?

O Porto faz grandes investimentos e quem quer ser campeão tem de fazer grandes investimentos. Após a conquista da Liga dos Campeões receberam muito dinheiro e puderam investir em grandes jogadores. Quando se tem mais dinheiro, melhor qualidade se compra. Dentro de campo não se nota, mas é uma boa ajuda ter os melhores jogadores no plantel.

Sete anos sem um campeonato é muito tempo para o Sporting...

É muito tempo, de mais, para um clube da dimensão do Sporting estar sem ganhar um título de campeão nacional. Espero que este ano possa ainda chegar, apesar da distância e das dificuldades que temos de enfrentar.

José Luís Pimenta" In-JN 26 jANEIRO DE 2007

sábado, 29 de dezembro de 2007

Realidade informativa


No suplemento Sport do Correioda manhã foi hoje publicada uma entrevista, que optámos novamente por publicar na integra:


"- Correio Sport – Por que motivo saiu do Sporting?

- Rui Meireles – O presidente Soares Franco disse-me que o resultado de um estudo pedido a uma empresa externa apontava para uma estrutura empresarial assente na direcção-geral comercial, à qual ficariam subordinadas todas as restantes áreas. Foi entendido não haver espaço para mim.

- Ficou convencido?

- Eu sou uma pessoa incómoda, penso pela minha cabeça e não presto vassalagem. Após a saída de Dias da Cunha, passei a ser um alvo a abater pelo poder que tinha. Foi necessário gastarem largas dezenas de milhares de euros por um estudo que sustentasse a minha saída. A solução foi um fato à medida.

- Sentiu-se traído por Pedro Afra, actual director-geral do grupo Sporting?

- Traído não. Já conheço Pedro Afra há vários anos e conheço a forma insinuante como gere a sua carreira junto do poder. O Sporting não pode funcionar numa base de ‘compadrio’. Quando tal acontece vão chegar pessoas incompetentes a lugares críticos.

- Era preciso fazer um despedimento colectivo na Sporting Património e Marketing?

- Era preciso reduzir o número de efectivos do Grupo Sporting e não apenas da Património e Marketing. O despedimento colectivo foi um acto irresponsável, de falta de coragem, afrontação e de inexistência de argumentos válidos. Quando a vida de pessoas está em jogo, não se pode fazer despedimentos colectivos por um lado e tomar medidas despesistas por outro.

- Colocava limites a Carlos Freitas ou a Paulo Andrade, ex-administrador da SAD, nas contratações?

- Havia um acordo com a banca que implicava limitações, nomeadamente no investimento em novos jogadores.

- Dias da Cunha é arguido no processo João Pinto. Surpreende-o?

- Foi constituído arguido, porque lhe solicitei que na qualidade de administrador procedesse à assinatura de um contrato. Caso fosse administrador, teria sido eu a assinar o documento e seria eu o arguido.

- José Veiga actuou como empresário ou amigo de João Pinto?

- Como empresário. Os amigos, entre aspas, não recebem comissões.

- É verdade que o Sporting pagou a João Pinto de maneira que ele fugisse aos impostos?

- É completamente falso.

- Está preocupado com a cotação das acções do Sporting?

- Estou preocupado com a falta de credibilidade na indústria do futebol. A cotação das acções resulta em parte desta falta de credibilidade.

- Investidores estrangeiros devem entrar na Sporting SAD?

- O projecto de reestruturação que defendo tem na abertura de capital a investidores fortes, nacionais ou estrangeiros, um dos seus principais alicerces. Numa estrutura societária em que considero só haver razão para existir o clube e a Sporting SAD, importa transferir valor para a empresa cotada, nomeadamente através do Estádio e da Academia. Em termos de mercado a sociedade desportiva passará a ser mais apetecível para os grandes investidores. Com a entrada de novos fundos haverá uma melhoria dos capitais próprios, uma redução do endividamento e dos juros bancários, libertando recursos para investir no futebol e nos serviços aos sócios e accionistas.

- Equaciona a hipótese de o clube ter directa ou indirectamente uma participação minoritária na SAD?

- Não é nenhum drama. Sempre defendi que dificilmente conseguimos cativar capitais mantendo o clube a maioria do capital. O clube teria a participação máxima permitida por lei que é de 40 %.

- Defende a extinção de modalidades como meio de contenção de custos?

- Sim. O próprio Soares Franco era um acérrimo defensor desta posição quando não era presidente. Lamento que o presidente tenha optado por uma gestão populista e não por uma gestão racional em prol dos reais interesses do Sporting.

- Está de acordo com o rumo que o Sporting está a tomar?

- Tenho assistido a uma gestão populista, de exteriorização de muita vaidade e de pouca contenção verbal. Não consigo identificar motivos para satisfação da actual gestão. O processo com a Câmara de Lisboa tarda em concretizar-se, a receita da venda do património não desportivo não proporcionou a redução prevista no passivo financeiro, as dificuldades financeiras e de tesouraria agravaram-se, os resultados desportivos tardam em aparecer e a aproximação aos sócios e adeptos do Sporting continua a ser uma aposta adiada.

- Soares Franco disse que o Projecto Roquette deu um prejuízo de 50 milhões de euros.

- Foi um projecto pioneiro, mas o Sporting está a pagar erros crassos, alguns decorrentes desse pioneirismo, outros pelos excessos cometidos e que a vaidade dos principais mentores não deixou estancar.

- Quando saiu estava prevista uma renegociação do Project-Finance do Sporting?

- Comecei a dar passos importantes para fazer ajustamentos aos planos da dívida financeira, no entanto surgiram iniciativas novas que entorpeceram o processo e um ano e meio depois do início das minhas iniciativas não se conhecem os resultados.

- O Sporting depende da Banca?

- Já devia ter uma gestão equilibrada, em que o peso do serviço da dívida financeira fosse cada vez menor na estrutura dos fluxos de tesouraria. A gestão seguida em nada abona a favor de uma redução da dependência da banca.

- O Sporting ainda precisa de alienar mais património?

- A construção de um Estádio exclusivo do Sporting foi um erro e que muito está a penalizar a actividade desportiva com a dispersão dos recursos financeiros. A alienação do restante património (Estádio e Academia) é um cenário possível, mas só deve ser ponderado depois de esgotadas outras alternativas como é o caso do naming do Estádio.

- Pedro Barbosa só entrou no Sporting pela amizade com Carlos Freitas e Paulo Bento?

- Não sei o que ele faz no Sporting para além daquilo que vejo nos jogos. No entanto, estou convicto de que não foi o factor amizade que prevaleceu na sua contratação, até porque Pedro Barbosa viu a remuneração-base ser duplicada no espaço de um ano.

- Concorda com o prémio de 86 mil euros pago a Carlos Freitas?

- Foi Soares Franco que me pediu para o pagar. Mas os prémios de gestão devem ser atribuídos. Eu próprio recebi 29 mil euros, prémio que teve a ver com a minha intervenção num acordo com a Banca. Foi o único em 12 anos.

- Admite candidatar-se à presidência do Sporting?

- Não, mas o futuro a Deus pertence.

- Arrependeu-se de ter jantado com Abrantes Mendes.

- De maneira alguma. Depois das eleições acedi a um convite de um amigo comum para que jantássemos juntos e a primeira coisa que Abrantes Mendes fez foi pedir-me desculpa pelos ataques pessoais. E nunca me fez uma pergunta sobre a vida interna do Sporting.

- Abrantes Mendes dava um bom presidente para o Sporting?

- Se conseguir arranjar uma boa equipa, o que não foi o caso na última candidatura e ele sabe disso, poderá ser um bom presidente do clube.

- Soares Franco deve recandidatar-se?

- Há poucos meses disse que não sabia se ia acabar o mandato, o que constituiu um factor de instabilidade evitável, agora vem dizer que já está a trabalhar na recandidatura.

- O Sporting tinha necessidade de um estádio com 50 mil lugares?

- Para o nível médio de assistências é excessivo. Defendi que o Estádio do projecto inicial, com 42 mil lugares, era a melhor solução, não só porque teria um custo substancialmente mais baixo, como teria permitido a construção de um pavilhão multidesportivo no espaço onde foi erguido o Alvaláxia (solução de recurso) e também porque o Estádio seria ainda mais acolhedor com o público praticamente em cima do recinto de jogo, à inglesa, com uma forte pressão dos adeptos em geral e das claques em particular.

- Soares Franco foi insultado pelas claques...

- Durante vários anos tive a responsabilidade de gestão das claques que conduziu à criação de um protocolo, actualmente suspenso. Sou favorável à existência de claques mas de acordo com um conjunto de regras e responsabilidades para ambas as partes. Mas sou completamente contra as reacções desencadeadas no jogo com o Louletano para a Taça de Portugal. As claques têm o direito à indignação mas a forma como o fizeram é condenável.

- Diz ser favorável à existência de claques...

- No caso do Sporting as claques têm sido a principal mola de incentivo para os jogadores, acompanham a equipa a todo o lado. Em tempos fiz-lhes um desafio, sem sucesso, para que se unissem e formassem uma só claque no topo sul. Seria a maior claque portuguesa que faria de Alvalade um autêntico inferno. Tenho esperança de que um dia isso venha a acontecer.

ERROS DE CÁLCULO (Opinião do jornalista João Querido Manhã)

Uma polémica de bastidores entre um director financeiro e um grupo de administradores pode ter um efeito devastador para a imagem de uma instituição bancária, mas é praticamente insignificante na vida de um clube de futebol.

Pouco ou nada preocupados com o processo entre o presidente Soares Franco e o ex-director financeiro Rui Meireles, os sportinguistas por estes dias só querem perceber e avaliar o alcance do ‘levantamento’ do seu goleador contra a disciplina férrea do treinador Paulo Bento. De algum modo, porém, uma coisa tem a ver com a outra.

Rui Meireles foi uma figura cinzenta escura ao longo dos doze anos que serviu o Sporting, numa área administrativa, mas com salário de futebolista mediano, beneficiando de uma posição estratégica ao serviço do presidente José Roquette, o homem que introduziu no Sporting o conceito de clube empresa em que, num quadro de autêntico caos orgânico, acabaram por florescer os conceitos administrativos e multiplicar-se as empresas e serviços, um prometido paraíso de gestão que redundou no agravamento do quadro geral das finanças do clube, em consequência dos resultados negativos acumulados por toda essa actividade improdutiva, parasita do futebol.

Conhecido como o ‘homem do BES’ nos ‘mentideros’ do clube, cultivou o low profile característico da rapaziada das finanças, mas não deixou de sentir o apelo do futebol, já na gestão de Dias da Cunha, quando a equipa leonina ficou nas mãos da linha burocrática. Sem sensibilidade desportiva, cometeu o erro fatal de abandonar um jogo marcante, quando a equipa perdia copiosamente, em Paços de Ferreira, deixando os jogadores e o treinador José Peseiro à mercê da fúria dos adeptos.

Esse erro de cálculo foi-lhe fatal, bem como o alinhamento com o candidato Abrantes Mendes, derrotado nas eleições que se seguiram à demissão de Dias da Cunha. O seu profundo conhecimento da crítica condição financeira do clube permitiu-lhe manter o emprego durante mais dois anos e agora ameaça prolongar-se como uma sombra da restruturação empreendida por Soares Franco.

O presidente do Sporting veio anunciar uma redução do défice na ordem dos 28,5 milhões de euros, mas o ex-director financeiro desmente-o e ainda levanta suspeitas sobre o destino de mais 24 milhões resultantes da venda do património imobiliário.

Sem as consequências dramáticas, inclusive para a estabilidade económica do clube, de um possível confronto entre Liedson e Paulo Bento, as alegações de Rui Meireles lançam uma nuvem de descrédito sobre uma instituição cotada em bolsa, com custos irreparáveis sobre a sua imagem, aos olhos dos investidores.

Quando Meireles foi afastado, embora negando a indemnização milionária que tanto indispusera os membros do Conselho Leonino, o presidente Soares Franco elogiou o profissional e desmentiu a ideia de um confronto entre as partes, resultante do alinhamento declarado dele com uma lista opositora, no processo eleitoral. Percebe-se agora a fragilidade dessa cordialidade, em contraste com as ameaças de procedimento cível e de expulsão de sócio. Outro clamoroso erro de cálculo, com um lesado único: o Sporting.
Nuno Miguel Simas "

1906

Luta & Resiste

Realidade informativa


Optámos por publicar na íntegra a entrevista dada ao Record, pelo presidente do SCPortugal:

PRESIDENTE DO SPORTING EM ENTREVISTA EXCLUSIVA A RECORD

Sobre o Futebol :

RECORD – Em época de Natal, é quase obrigatório começarmos por falar de compras e presentes?
FILIPE SOARES FRANCO – Podemos falar do que quiserem, mas sobre essa matéria? O Sporting tem uma estrutura profissional dentro da SAD. A única coisa que faço é quando se chega ao último processo de decisão. Quando têm tudo acordado entre eles, eu entro.

R – Tem uma almofada para a eventualidade de necessitar de reforços em Janeiro. Quais são os valores em causa?
FSF – Não revelo e por uma razão muito simples – a SAD é uma empresa cotada e a partir de determinados valores de investimento que faz é obrigada a dar nota à CMVM. Enquanto as coisas não estiverem bem planeadas e definidas nada devo adiantar.

R – Atendendo à actual conjuntura, reconhece que é preciso reforçar a equipa?
FSF – Não sei se é preciso reforçar a equipa porque ainda ninguém teve uma conversa comigo sobre esse assunto.

R – E qual é sua sensibilidade? Considera que a equipa precisa de ser reforçada?
FSF – Considero é que o Sporting ao longo desta época tem tido um conjunto de situações, nomeadamente no capítulo das lesões, que obrigaram a repensar todo o seu esquema de jogo. Aliás, é claro e é público. O Sporting tinha contratado dois jogadores com características semelhantes, que o Paulo Bento queria porque faziam muita pressão na frente, o Derlei e o Liedson. Queria ainda um jogador que tivesse velocidade, o Djaló, e outro de área para determinados jogos, o Purovic. Era isto que estava idealizado. Infelizmente, um dos pilares fundamentais de toda a estratégia do Sporting teve uma lesão logo no início da época e isto fez com que o esquema de jogo tivesse de ser mudado. O Sporting passou a ter de jogar sempre ou com o jogador de área, e ele não foi contratado para fazer uma posição diferente, ou com o jogador veloz, que também não fazia exactamente a mesma posição de Derlei. Não tendo a equipa sido preparada ao longo da pré-época para jogar daquela maneira, acabou por ressentir-se na confiança e nas exibições.

R – Sendo o ponta-de-lança um objectivo prioritário, como parece ser, admite que a contratação seja por compra ou por empréstimo?
FSF – Tudo depende do tipo de oportunidade que aparecer. O Sporting não tem dinheiro para comprar um avançado por 9 ou 10 milhões de euros. E por isso?

R – Está fora de causa?
FSF – Está completamente fora de causa!

R – Isso quer dizer que o Sporting nunca gastará tanto dinheiro num jogador?
FSF – Não. Quer dizer que hoje não tem dinheiro. Tomara eu? Não há no mercado nenhum avançado de reconhecido mérito e valor, afirmado no futebol, com categoria internacional, por menos de 9/10 milhões de euros. Não existe! Pura e simplesmente não existe. E, portanto, a política que o Sporting tem seguido, não tendo 9 ou 10 milhões de euros para investir, é fazer aquilo que tem feito com a sua formação. É comprar jogadores ainda jovens, com potencial valor, que possam valorizar-se. O caso do Purovic é típico.

R – Na reabertura de mercado, o Sporting não poderá correr o risco de estar à espera que um jovem possa integrar-se?
FSF – O Sporting não se desvia da sua linha de contratações.

R- Portanto, o critério será idêntico àquele tem sido seguido?
FSF – O critério tem de ser o mesmo ou parecido. Tem de se fazer o que o Sporting tem feito, que é contratar jogadores a título de empréstimo antes de fazer a opção de os comprar. Porque quem tem pouco dinheiro para fazer investimentos tem de saber racionalizar o investimento que faz, tem de estar mais seguro. Ninguém tem a pretensão, julgo eu, de acertar 100 por cento nas suas contratações. E nestas regras do futebol, se contratamos um jogador temos de levar o contrato até ao fim. Isto não é uma empresa normal.

R – E se aparecer, como no Verão, a possibilidade de empréstimo de alguém como Maxi López? O conceito é diferente da cedência de Izmailov, porque uma coisa é ter um jogador cedido pelo Lokomotiv e outra é ter um do Barcelona?
FSF –Estamos abertos a todo o mercado dos empréstimos. Não sei qual é o conceito do Maxi López e não me preocupo com isso. Preocupo-me, isso sim, com os nossos conceitos e com o que nós conseguimos fechar.

R – Mas já garantiu que não vai comprar só por comprar. Dentro dessas limitações que focou agora, é possível adquirir um jogador com provas dadas?
FSF – Não sei, não sei. Devem perceber mais de futebol do que eu. Não sei se é ou não possível.

R – Dentro das limitações?
FSF – Se eles [na SAD] aparecerem com nomes, é porque acham que é possível. Não sou propriamente um especialista na área do futebol. Não sou. Gosto muito de futebol, mas não passo o meu tempo a ler e a recolher informação sobre futebol.

R – O que resulta das conversas que tem tido com Paulo Bento, do atraso em relação ao líder, das lesões? Está preparado para usar a tal almofada para reforços?
FSF – Se disse que tinha uma almofada é porque estou preparado para usá-la.

R – Só para o ataque?
FSF – Não! Apenas dei o exemplo daquilo que se passou no ataque. Até pode ser que seja para outras áreas. Pode haver algumas mexidas. É preciso ter alguma paciência e calma para ver como o mercado se comporta.

R – Já tem uma ideia exacta do número de jogadores a contratar? Há sempre oportunidades?
FSF – Não tive ainda conversas sobre essa matéria.

R -- O técnico disse-lhe, objectivamente: “Queremos um defesa, um médio e um ponta-de-lança”?
FSF – Não disse rigorosamente nada.

R – Há um carácter de urgência, por o mês de Janeiro poder ser decisivo para o Sporting? Isto é, tem a disputa da Taça da Liga?
FSF – ?. Temos um calendário muito apertado.

R – Isso significa que tem de antecipar as contratações, ou melhor, não deixar que elas se arrastem até 31 de Janeiro, quando costumam aparecer as melhores oportunidades?
FSF – Não devemos cometer um erro, pelo simples facto de podermos eventualmente ter a pressão de fazer as coisas mais depressa.

R – Mas poderá acontecer, num cenário complicado, o Sporting distanciar-se mais do FC Porto e perder até o acesso à final da Taça da Liga?
FSF – Não gosto de falar sobre suposições ou cenários. E o problema não é o valor técnico da equipa. O campeonato não nos tem corrido favoravelmente, mas soubemos dar a volta na Taça da Liga; batemo-nos na Liga dos Campeões; e ganhámos a Supertaça ao FC Porto no início da época. Portanto, eu não crucifico, não vejo que o panorama da seja tão negro como vocês o pintam? Acho que existe um problema de motivação, no campeonato, fruto do atraso pontual que temos.

R – Insistindo no tema “mercado” – o Sporting estará disposto a ultrapassar um pouco a tal almofada que tem para investir em reforços, assumindo o risco, para depois garantir o retorno através do acesso directo à Liga dos Campeões e respectivo encaixe financeiro?
FSF – O que é “um pouco”?

R – Está disposto a arriscar? A assumir um investimento um “bocadinho” maior do que o Sporting pode?
FSF – Não sei o que consideram um “bocadinho”, portanto não sei responder à pergunta.

R – Também não sabemos qual é a almofada, por isso também não podemos precisar?
FSF – Quando se estabelece um ‘plaffond’ de investimento, se variar mais 5 por cento para cima ou para baixo não faz grande diferença. Mais do que isso não. Ou há ‘plaffond’ ou não há. E nós temos um. Uma coisa é certa: o Sporting já viveu 102 anos e tem de viver, pelo menos, mais 102 anos. Portanto, não pode fazer uma política de curto prazo. Eu não estou disposto, enquanto for presidente, a estabelecer uma política de curto prazo. Enquanto eu for presidente, o Sporting terá uma política de médio/longo prazo, de forma a que possa ser um projecto desportivo de sucesso. E, se não for comigo, que seja com o meu sucessor. Eu tudo farei para que seja comigo, mas, se não for, que seja com o meu sucessor e que ele tenha as bases para poder construir esse projecto. Agora, investir fora do baralho, para ter sucesso e deixar o clube numa situação não sustentada, não faço.

R –O número de reforços poderá estar directamente relacionado com o número de saídas em Janeiro?
FSF – Desconheço.

R – Não pôs essa condição à SAD?
FSF – Eu não. Eu disse que tinha uma almofada, que é com o plantel que temos. Não é condicionada a alterações no grupo que temos.
R – Não era possível ter feito mais para manter o Caneira ou o Ricardo?
FSF – Não. Pelo Caneira não podia fazer absolutamente nada.

R – Mas é essa a ideia que passa na opinião dos sócios. Se havia 25 milhões do Nani, não era possível arranjar 4 milhões para oferecer pelo Caneira?
FSF – Mas quem é que lhe disse a si que não o fizemos. O Caneira saiu do Sporting porque o Valencia quis.

R – Mas, o Sporting fez alguma proposta concreta ao Valencia para adquirir o passe do Caneira?
FSF – Fez. Fez tudo o que era possível fazer, até onde achou que poderia fazer para ficar com o Caneira. Agora, isto tem as condições da negociação.

R – Está de alguma forma arrependido por não ter mantido um desses jogadores? O Caneira, o Tello, o Ricardo? eram dos mais experientes da equipa.
FSF – Eu tenho a maior pena que todos eles tenham ido embora. Vou dizer-lhe com franqueza: não tínhamos condições para renovar com o Tello, como ele saiu; não tínhamos condições para segurar o Ricardo, por aquilo que ele pretendia; o Caneira foi-se embora porque o Valencia quis; e o Nani porque bateram a cláusula de rescisão. Ponto. Eu não podia fazer absolutamente nada.


Sobre o pavilhão:

R –Durante as eleições disse que queria construir um pavilhão, agora fala em projectar um pavilhão. Porque é que mudou de discurso?
FSF – Não mudei. Também disse que ia resolver o passivo do clube até finais de 2006. Estamos em finais de 2007, ainda não consegui resolver o problema do passivo e enquanto não resolver não me posso candidatar a fazer mais investimentos. Não posso e não devo.

R – Há alguma área estudada para o pavilhão? Já existem possíveis parceiros? Fala-se da Caixa Geral de Depósitos?
FSF – Existe uma série de coisas faladas, mas nada materializado porque enquanto o Sporting não tiver luz verde para fazer isto não o pode fazer. Preciso de ter resolvido o problema do loteamento, não só pelo processo do loteamento em si como também por causa do espaço do loteamento, assim como preciso ter resolvida a questão de refinanciamento do Sporting. São duas questões vitais. No dia em que estiverem resolvidas poderemos pensar nisso. Agora, isto não depende de nós? As decisões administrativas da Câmara não dependem de mim. Esta última decisão que ainda vai a votação já era para ter ido, mas resolveram remeter para um comissão que tinha de fazer um relatório. Não estou disposto a ceder mais! Não consigo perceber: quando há boa fé de todas as forças partidárias para resolver o problema, quando sabem que vai para agenda um tema como este, que é tão quente e tão importante para o Sporting, deixam chegar ao dia da assembleia, à hora da assembleia, para colocar uma proposta para isto ir a uma comissão. Chama-se a isto, a meu ver, jogo político puro.


Sobre Liedson:

R – Fala-se na possibilidade de Liedson sair. Qual é a sua posição sobre o tema?
FSF – Mas quem é que falou que o Liedson podia sair?

R – Diz-se até que pode sair por menos dinheiro do que previsto…
FSF – Não estou preocupado com isso. O Liedson está bem integrado no clube e sente-se bem no Sporting.

R – O próprio Liedson diz que pretende ficar mas que, se surgir uma oportunidade, não a descarta. Por outro lado, é um jogador que tem 30 anos e que terá ambições de jogar noutro campeonato, com mais visibilidade, como o seu empresário já veio a público dizer…
FSF – Os clubes portugueses – mas só falo do Sporting – que têm recursos financeiros abaixo dos seus competidores europeus só têm duas formas de se defenderem do ataque dos clubes europeus sobre os jogadores que fazem parte da sua equipa. Primeiro, ter contratos relativamente longos, com aqueles jogadores que quer. Segundo, ter cláusulas de rescisão e épocas em que elas possam ser aplicadas. É o que nós temos feito. Mas, se aparecerem condições excepcionais, que nós não podemos acompanhar, temos de nos cingir às regras do mercado.

R – Isso poderá querer dizer que os sportinguistas terão de estar preparados para a eventualidade de perder Liedson?
FSF – Não. Se aparecesse algum clube europeu que batesse a cláusula de rescisão e quisesse o Liedson, e ele preferisse esse clube a ficar no Sporting, eu nada poderia fazer. Mas é a única arma que tenho para me defender. E eu não quero que o Liedson saia do Sporting.

R – Poderá sair já em Janeiro?
FSF – Não.

R –Tem-se sido muito focada a melhoria dos contratos de Liedson e Polga por causa de questões fiscais. Esse dossiê já lhe chegou às mãos? Admite reavaliar essa questão ou é assunto fechado?
FSF – Não. Esse é um assunto que tem estado há algum tempo em cima da mesa e o Sporting tem abertura para falar dele. Mas devo dizer que desde as últimas negociações com o Polga e com o Liedson que esses assuntos estão muito minorados, se não estão já solucionados. Agora, houve um pequeno ajustamento que nós temos de pensar.

R – Quando a equipa da SAD chega ao presidente do Sporting com um possível reforço, a sua intervenção é meramente sob o ponto de vista financeiro ou dá a sua opinião sobre o assunto? Colocamos esta questão concretamente a propósito de Rochemback: perante um nome como Rochemback, vacilava ou era de caras, se porventura fosse viável?
FSF – Primeiro, dentro do Sporting nunca se falou de Rochemback. Quem falou de Rochemback foram os media, porque ele veio a Portugal recuperar de uma lesão e esteve na Academia, onde tem melhores condições do que no clube que ele representa, que é o Middlesbrough. O Rochemback não é um problema. Quando me chegam com uma proposta, o que faço, primeiro, é satisfazer a minha curiosidade. Também sou curioso. Gosto de saber porquê, para onde, quais são as razões, qual é a sustentabilidade daquilo. Depois pergunto, normalmente, de onde é que vem, que informações é que temos, antes de discutir a componente financeira. Sou curioso…

R – De onde vem? Refere-se ao clube, ao empresário?
FSF – De onde é que vem a informação; de que clube; como é ou não é [o jogador].


Sobre Derley e Paredes:

R – O facto de vir de determinado empresário suscita alguma dúvida ou reserva?
FSF – Nunca.

R – Nunca vetou uma contratação?
FSF – Não. Mas se querem uma revelação dessas, posso dizer-lhes que quando me falaram do Derlei ia-me caindo o cabelo todo.

R – Foi difícil convencê-lo?
FSF – Não. Não. Ao princípio, apanhei um choque.

R – Arrependeu-se dessa reacção inicial?
FSF – Não, não é arrepender-me, mas? ‘O Derlei? Do Benfica?’

R – E se lhe vierem falar do Rochemback?
FSF –Eu não falo sobre “ses”, mas sobre factos. Falei do Derlei, porque foi um facto. Agora, o “se” não existe.

R – Já pensou em renovar com Derlei?
FSF – Não. Tenho o maior carinho e estima pelo Derlei, tenho apreciado muito o esforço que ele tem feito no sentido de acelerar a sua recuperação, mas o Derlei é um jogador maduro, com alguma idade, que teve uma lesão que é grave, que já teve essa mesma lesão no outro joelho. Portanto, é preciso saber em que moldes é que ele está recuperado e como é que ele próprio se sente, para nos podermos sentar à mesa e avaliar o assunto.

R – Admite a possibilidade de renovar com ele, se essa recuperação for favorável?
FSF – Admito todas as possibilidades com o Derlei, desde que o dossiê me chegue, para eu poder dizer sim ou não.

R – Há reforços desta época que o tenham desiludido profundamente?
FSF – Não. Desta época, não.

R – E da outra?
FSF – Há jogadores que hoje, reconhecidamente, não contrataria.

R –Paredes?
FSF – O Paredes é um exemplo típico. É um facto. Não tem jogado e não tem sido opção do técnico. E era um grande jogador, reconhecido, com currículo, que tinha feito uma grande época e várias temporadas no FC Porto.

R – Em relação a Izmailov, já foi assumido publicamente que é um jogador que o Sporting quer manter. Pode ser esse o primeiro reforço de Janeiro?
FSF – Não. Falamos no fim da época. Não temos de nos pronunciar em Janeiro sobre decisões que temos de tomar até Maio ou Junho.


Nani e Miguel Veloso:

RECORD –Nani tinha uma cláusula de 20 milhões de euros mas saiu por um valor superior. Um mês e meio depois, Alex Ferguson veio dizer que, se calhar, era preferível ele ter ficado mais uma época no Sporting?

FILIPE SOARES FRANCO – ?E dois ou três meses depois diz que ele é lindamente bem utilizado e o professor Carlos Queiroz diz que ele se integrou lindamente no Manchester e que hoje em dia é um jogador essencial para o plantel, etc., etc. Portanto, não são só os treinadores portugueses que se dizem e desdizem. Os ‘sirs’ da vida também se dizem e desdizem e cometem alguns erros de apreciação.

R – A hipótese de ele permanecer mais um ano foi falada?
FSF – Não. Mas era bom que vocês soubessem porque é que eles pagaram os 25, 5 milhões de euros?

R – E foi porquê?
FSF – Pesquisam tanta coisa e esta não são capazes de pesquisar?

R – Era por ele já ter um acordo para renovar?
FSF – Isso não obriga a nada!

R - O Sporting assegurou direito de preferência sobre Nani caso ele venha para Portugal directamente do Manchester?
FSF – Estou convicto que não é só se ele vier para Portugal. O Sporting terá sempre o direito de preferência sobre a venda do Nani.

R – O Miguel Veloso é um caso, para já, adiado para o final da época. Mas não foi surpreendido pelas declarações que ele fez após o jogo com a U. Leiria, quando disse que para ficar também era preciso que fizessem alguma coisa. Como é que interpretou isso?
FSF – Ele já corrigiu essas declarações.

R – Foi um desabafo inoportuno ou uma declaração infeliz?
FSF – Nem uma coisa nem outra. Acho que é o resultado da razão por que eu me aborreci com a situação dele. Estamos a falar de um jovem jogador, que tem 21 anos e que integrou o plantel principal na época passada, sem ninguém acreditar seriamente que iria ser o titular. Ele teve uma oportunidade e, de repente, começou uma ascensão surpreendente. Quando começou a nova época, porém, não havia semana que não aparecesse uma página ou um artigo sobre o Miguel Veloso, a dizer que ou era o Arsenal, ou o Chelsea, ou o Manchester , ou o Real Madrid, ou o Barcelona, ou o Inter, ou o Milão ou? a minha tia, a minha prima!

R – Mas isso também aconteceu com Nani. E depois?
FSF – Não, não, não? Primeiro, com o Nani passou-se muito menos e muito mais para o fim da época. O Nani – as pessoas esquecem-se – no ano passado por esta altura era assobiado no estádio. Hoje têm todos pena dele, mas no ano passado fartou-se de ser assobiado. Portanto, é natural que um jovem de 21 anos que vê um amigo dele que saiu do Sporting e foi para o Manchester e vingou, com toda esta campanha a enaltecer as suas qualidades, a dizer que ele tem oportunidades no clube A, B, C, D, E ou F, às tantas tenha uns desabafos, uma frase menos feliz, por acreditar nele próprio. Eu não digo que ele não deva acreditar nele próprio. Essas coisas têm é de ser mais bem geridas no campo emocional, de forma que as pessoas se possam concentrar e focalizar naquilo que é essencial para um jogador e para a vida dele. Não para o Sporting, para a vida dele, que é fazer todos os anos uma época melhor do que a anterior. Um grande jogador é aquele que todos os anos faz uma época melhor do que a anterior. E, para isso, tem que trabalhar muito e concentrar-se na sua profissão, na sua vida pessoal, e estar focalizado naquilo que ele quer ser.

R – Receia pelo futuro do Miguel Veloso?
FSF – Não. Não tenho receio nenhum sobre a vida do Miguel Veloso, porque ele tem uma enorme potencialidade. Mas – de uma forma geral, porque o Miguel Veloso não é excepção –, tem de estar muito focalizado na sua profissão.

R – Censura este apelo pela moda?
FSF – Não tenho de censurar, porque não tenho sequer o direito de me intrometer na vida privada do Miguel Veloso. Mas espero que ele esteja sempre muito focalizado com aquilo que quer da vida dele como profissional e que tenha incutido no seu espírito competitivo que para ser um grande jogador todas as épocas tem que fazer melhor do que na época anterior?

R – Foi com base neste tipo de situações que fez o seu recente discurso na Batalha, ao afirmar que o Sporting dá um contrato aos 16 anos mas depois quer que os jogadores o cumpram até ao fim?
FSF – Claro. Eu expliquei na Batalha que o Sporting não tem todo o programa que tem na formação para ser campeão de infantis, juvenis e juniores. O programa de formação do Sporting é produzir jogadores para a sua equipa principal. Não contratamos jogadores com 16 ou 17 anos para sermos campeões de juniores. Esqueçam.

R – Em relação a Miguel Veloso há dois factores que podem ser avaliados. Um é a escolha que ele já fez na direcção de uma carreira paralela, ao estabelecer um contrato com uma agência de moda. Outro, é o enquadramento que ele tem por parte do empresário. Inclusive, escreveram-se notícias dando conta que alegadamente Paulo Barbosa preferiria o Real Madrid e Miguel Veloso o Arsenal. Como avalia este tipo de actuação?
FSF – Não me pronuncio sobre isso. O Miguel Veloso tem um contrato com o Sporting e é com o Sporting, por enquanto, que tem de se preocupar, em cumprir esse contrato. Se alguma vez houver motivo para não o cumprir, o primeiro que tem de saber é o Sporting.

R – Falou pessoalmente com o jogador durante este período?
FSF – Não. Não tenho por costume ter conversas pessoais com os jogadores, sem ser cumprimentá-los e falar com eles uma ou duas vezes durante o ano, quando o faço em conjunto, como sucedeu recentemente.

R – Porque sentiu essa necessidade de ir ao balneário falar com o grupo?
FSF – Porque a equipa estava a sofrer de elevados níveis de ansiedade, sem razões para ter de passar por isso.


Ódios de estimação:

RECORD – Considerava Rui Meireles e Carlos Queiroz seus amigos?
FILIPE SOARES FRANCO – Nem um, nem outro. O dr. Rui Meireles nunca foi meu amigo, apenas uma pessoa que conheci dentro do Sporting e que aprendi a respeitar como profissional. Sempre tive consideração por ele e manifestei isso quando saiu. Enquanto esteve ao serviço do Sporting, prestou serviços relevantes ao clube. O assunto Carlos Queiroz é um assunto que não gostava de comentar? Mas devo dizer com objectividade que não o conheço de lado nenhum. Se calhar cumprimentei-o três ou quatro vezes na minha vida. Não é meu amigo. Nem sequer conhecido.

R – Considera normal a reacção de Alex Ferguson?
FSF – Não vou comentar mais nenhuma reacção seja de quem for sobre essa matéria, que foi demasiadamente empolada para a importância que teve. Tenho a consciência daquilo que disse e quando disse. Não fiz mais do que dois comentários breves e curtos.

R – Mas como reage ao pedido de retratação de Alex Ferguson?
FSF - Já disse o que tinha a dizer sobre essa matéria.

R – Sente-se triste por ver o Sá Pinto a defender o Iordanov?
FSF – Nada. Tanto o Sà Pinto como o Oceano têm o direito de defender o Iordanov mas acho que ambos deviam conhecer em detalhe o problema para poderem ser testemunhas abonatórias. E, assim, teriam de conhecer as duas versões. Nem um nem outro pediram ao Sporting qualquer esclarecimento sobre a situação do Iordanov para poderem fazer um juízo de valor sobre o assunto. Mas, pelas declarações públicas que fizeram, parece-me que queriam que o Sporting chegasse a um entendimento com o Iordanov?

R – O Iordanov diz que é no local, no dia e na hora que o Sporting quiser. Reiterou-o muito recentemente?
FSF – Eu sei. Mas ainda nenhum jornal relatou exactamente aquilo que eu disse sobre a situação do Iordanov. Há obrigações entre partes: as formais e institucionais e as de índole moral ou comportamental. O Sporting deu a mão ao Iordanov. Não se desaparece durante quatro meses sem um telefonema a dizer se está na Roménia ou na Grécia. Não duvido um mílimetro que se esteve a tratar mas censuro a conduta. Esse comportamento não pode acontecer entre pessoas e entidades que se querem relacionar a bem. Sou o actual presidente do Sporting e não tenho de fazer juízos de valor sobre o passado.

R – Mas o Sporting pode ser obrigado a realizar o jogo de homenagem ?
FSF – O Sporting honrará qualquer decisão que o Tribunal tome sobre essa matéria. Não me sinto com conhecimentos de causa para fazer juízos sobre essa matéria. Não tenho problema nenhum nem com o Iordanov, nem com o Oceano, nem com o Sá Pinto, nem institucional nem pessoal. Só tenho factos relatados em cima de uma mesa e perante isso achei por bem que era melhor ir a Tribunal.


Paulo Bento, Carlos Freitas e Pedro Barbosa e o Sporting é no 7º piso:

RECORD – No final do jogo com a U. Leiria, Paulo Bento viu pela primeira vez lenços brancos e houve contestação aberta. Isso não o fez vacilar na intenção de mantê-lo e tentar torná-lo no Alex Ferguson do futebol português?
FILIPE SOARES FRANCO – Eu, no jogo com o Louletano, também fui ofendido pelas claques e não pensei em demitir-me do Sporting. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

R – Mantém confiança plena em Paulo Bento. É isso que está a dizer?
FSF – Permitam-me que responda assim: nem respondo à vossa pergunta.

R – Subscreve todos os actos de disciplina da equipa que o treinador tem assumido?
FSF – Até hoje todos. E mesmo as opções que ele tem tomado em prol do lançamento dos jovens no plantel. Agora, o que é preciso é a massa associativa do Sporting perceber que nós temos um projecto a prazo, corporizado na formação, apostando nos jovens para fazer uma grande equipa. Isto, às vezes, demora mais tempo do que nós queremos, exactamente porque eles são jovens.

R –Esse momento de contestação de que falamos em relação a Paulo Bento atingiu de forma mais ampla e contínua o administrador Carlos Freitas. No contexto de toda a polémica, o prémio de 86 mil euros por sucesso desportivo parece-lhe normal, numa campanha em que o Sporting só ganhou a Taça?
FSF - Foi transmitido à CMVM, está no relatório e contas do Sporting. 86 mil euros comparativamente com os prémios que são atribuídos pelos nossos concorrentes, correria o risco de dizer que é quase ridículo. Ganhámos uma Taça de Portugal e fomos apurados para a Liga dos Campeões. O Carlos Freitas recebeu um prémio, tal e qual como recebeu a equipa técnica, tal e qual como recebeu ou pode receber o director de futebol e como recebe toda a equipa de futebol. Os prémios estão estipulados em função do êxito. Quando há receitas adicionais, eles têm prémio, quando não as há, não têm direito a prémio.

R - Qual é a importância do Carlos Freitas e do Pedro Barbosa na estrutura do futebol do Sporting?
FSF - Se foram contratados é porque têm importância. O Carlos Freitas está há muitos anos no Sporting. Já fez muitas omeletas com muito poucos ovos, já teve de inventar alguns ovos, já fez óptimas omeletas, médias e más omeletas. Isso acontece a todos. Os terceiros que apreciam o trabalho de Carlos Freitas dizem exactamente isso. Nós, dentro da administração do Sporting, temos um enorme apreço pelo trabalho que ele desenvolve. O público em geral não se apercebe por vezes do trabalho que ele faz. Pensam que ele só compra e vende jogadores, que vai ao supermercado e compra e vende jogadores. Ele é um verdadeiro gestor de activos e nessa função tem de fazer muito mais do que comprar e vender. Tem de acompanhar e integrar esses jogadores, gerir as suas carreiras e acompanhá-los, até no campo psicológico. O tempo consumido, independentemente de ter de fazer, igualmente, prospecção, contactos com os empresários e todo o resto do trabalho, é ciclópico. É preciso compreender bem qual é a função e considero que mesmo no Sporting não é, em geral, bem compreendida, tal como entre a própria imprensa.

R - No Sporting? Também a nível de organização?
FSF – Não. Estou a falar em termos de adeptos, mas posso dizer que muitas vezes há algum desconhecimento entre alguns membros dos órgãos sociais do clube acerca do contudo funcional do trabalho de Carlos Freitas.

R - Ficou aliviado pelo facto de ele ter optado por ficar no Sporting após o auto-imposto período de reflexão? Seria um problema?
FSF – Não era um problema. Há frases feitas que não deixam de ter o seu fundo de verdade, como as que dizem que “numa organização só faz falta quem está” e que “os cemitérios estão cheios de pessoas insubstituíveis”. Com isto só quero dizer que independentemente da valia e da falta que as pessoas possam fazer numa organização, esta tem de reagir pela positiva quando tem problemas. Ninguém quer ter uma pessoa contrariada, porque deixa de ser um activo para passar a ser um passivo, porque é uma pessoa desmotivada que não cumpre bem a missão e, por isso, só pode trazer problemas e não alegrias. É muito importante saber resolver esses problemas mais cedo do que mais tarde. Garanto, no entanto, que na altura em que ele decidiu permanecer fiquei contente. Trata-se de um activo que faz falta ao clube. Obviamente que se ele quisesse sair, não era eu que o ia impedir.

R – Admite, porém, que ele é avaliado pelos resultados desportivos?
FSF – Tal e qual como eu. Nem mais nem menos. O Carlos Freitas tem uma função para cumprir dentro de determinadas regras e pressupostos que não é ele que dita. É o Conselho de Administração da SAD que os dá. Nem sempre pode fazer tudo o que quer, nem como ele quer, nem trazer ou vender pelo Sporting como ele quer. São necessários consensos e é preciso que as pessoas percebem que ele não é responsável total e absoluto, é sim responsável dentro do quadro e do enquadramento das funções que pode exercer.

R – Falou em omeletas. Considera que ele fez uma boa omeleta esta época?
FSF – Claro que sim. O Sporting investiu 7 milhões de euros. Entre reforços, pagamentos de empréstimos e de passes gastou essa verba. Está contabilizado.

R - Era o ‘plaffond’ que existia?
FSF - Não.

R – No início da época falou-se em 9 milhões de euros. Isso quer dizer que sobram 2 milhões para Janeiro?
FSF – Isso são vocês que estão a deduzir.

R – É a tal almofada para reforços?
FSF – O montante da almofada não vem só daí.

R - Ainda em relação a Carlos Freitas, uma das críticas que ficou da polémica com Carlos Queiroz foi que o Sporting faria contratações por catálogo. Não é assim?
FSF - Se tirarem Queiroz da pergunta, eu respondo?

R - É que foi a última pessoa a utilizar?
FSF - ?Mas eu não respondo ao Carlos Queiroz.

R - Não respondeu, há pouco, à importância que o Pedro Barbosa tem na estrutura do futebol. O que faz o ex-capitão?
FSF - Tem uma importância fulcral dentro da estrutura. É o director do futebol, que acompanha o Paulo Bento, que organiza toda a logística do clube dando apoio ao Eurico Gomes. Tem também alguns contactos com os jogadores e está permanentemente presente no dia-a-dia do futebol. Está no Sporting há cerca de um ano e tem um espaço enorme para progredir. Pode ser um belíssimo dirigente do futebol do Sporting.

R – Pode ser como o Rui Costa no Benfica, ou seja, pode ser futuro presidente do Sporting, tal como Luís Filipe Vieira disse de Rui Costa no Benfica?
FSF – Não sou o presidente do Benfica, não indigito sucessores, porque isto não é uma monarquia e não me pronuncio sobre essa matéria. O ser um excelente profissional não quer necessariamente dizer que tenha capacidade para ser um excelente presidente do Sporting. São duas coisas diferentes.

R – Pensa nele apenas e só como futuro dirigente do futebol ou pode englobar uma função mais abrangente no Sporting?
FSF - Pode evoluir. O campo de progressão de uma pessoa é quase ilimitado. Eu quando tinha a idade do Pedro Barbosa era director da Vista Alegre ligado à área da exportação e, hoje em dia, tenho uma actividade própria e dei um salto qualitativo de director para gestor e de gestor para empresário. A margem de progressão depende da energia, da força de vontade, das competências e da dedicação das pessoas.

R – Por falar em presidência, admite recandidatar-se?
FSF – Nunca falei sobre isso. É muito que cedo para tratar dessa questão. A vida de presidente do Sporting nem sempre é totalmente compatível com alguém que tem uma vida profissional intensa e com alguém que considera para si próprio que merece de ter um pouco de vida própria. Costumo dizer, por graça, que à segunda, quarta e sexta gosto de ser presidente do Sporting, às quintas, terças e sábados não gosto e no domingo depende do resultado do jogo. É uma boa forma de caricaturar... Devo dizer que gosto imenso de ser presidente do Sporting. Tenho grande motivação para cumprir esta missão e vou, seguramente, cumprir esta missão até ao fim. Só quando chegar perto do fim farei uma avaliação, primeiro sobre o meu desempenho e, depois, sobre a necessidade e vontade que os sportinguistas tenham de que continue. E da minha própria motivação para continuar. Mas estamos ainda longe, muito longe...

R – Se não avançar, considera que há soluções credíveis?
FSF – Não tenho que achar ou deixar de achar. Isto não é um reinado. Não apontamos delfins. Nessa altura, que apareçam os candidatos que têm de surgir. Devo dizer que uma das coisas que gostava era que o Sporting, como o dirigismo em geral no país, fosse revitalizado. É preciso uma nova geração que se interesse por estas causas. A vida competitiva que existe em Portugal por vezes não permite que as pessoas tenham tempo para dedicar a estas causas. Há muitos interesses que apareceram na sociedade e que levam as pessoas a fugir destas funções. De certa maneira, é preocupante? O Sporting tem tido uma cultura que não sei se no futuro será boa – os órgãos sociais, nomeadamente o Conselho Directivo, não é remunerado e, portanto, o presidente do Sporting é não remunerado. E perde muito tempo no clube. Hoje sou muito criticado por ter dito uma vez que dedicava uma hora por dia ao clube. Vou ser completamente claro: trabalho no 6.º andar e o Sporting é no 7.º. Portanto, as horas que dedico ao Sporting confundem-se. Estou a erguer um projecto empresarial onde tenho alguns milhares de pessoas que dependem de mim e precisam de ter a minha confiança e atenção. Portanto, não podem perceber que o Sporting é a minha primeira prioridade. O Sporting não é minha primeira prioridade em termos de vida. Agora, dedico ao Sporting todo o tempo que precisa e dedico às minhas empresas todo o tempo que elas necessitam. Tenho feito tudo isto abdicando do tempo que reservo para mim próprio, para a minha família, para os meus filhos e para a minha vida pessoal. Chego a passar semanas e semanas – e quando digo isto não é exagero – sem ter um único dia para mim. Isto não é sustentável por muitos anos?

R – Os problemas com a Câmara poderiam fazê-lo abdicar mais facilmente da presidência do Sporting?
FSF – Não. Mais facilmente continuarei a bater com a cabeça na parede até acabar o mandato.


A falta de símbolos no Clube:


Há espaço no Sporting para Sá Pinto? Chegou a fazer-lhe uma proposta?
FSF – Hoje em dia, dentro da SAD do Sporting, no lugar onde penso que o Sá Pinto se revê, com a estrutura e modelo que temos do negócio, não há espaço. Não podemos criar empregos só pelo facto das pessoas serem uma referência do Sporting e Sá Pinto é, sem dúvida, uma referência do clube. Na altura em que decidiu ir jogar para o Standard de Liége, foi-lhe oferecido um lugar dentro da estrutura do futebol profissional, que ele entendeu não aceitar, porque ainda queria prolongar a sua carreira de jogador. Foi isso, pelo menos, que nos transmitiu. Eu penso que tem muito a ver com a forma como acabou a época no Sporting. Estou a exprimir o que me vai na alma e nunca falei com o Sá Pinto sobre essa matéria, mas foi, para mim, uma reacção mais emocional do que racional.

R - Nessa altura, aconselhou-o a formar-se e a valorizar-se, dando-lhe esperanças de regresso. Ele está a formar-se, provavelmente, com esse objectivo?
FSF –É preciso haver oportunidade, mas os comboios não passam muitas vezes pela mesma estação. Por isso, para se ter uma oportunidade também é preciso saber apanhar o comboio quando este está a andar.

R - Não há lugar para Sá Pinto em termos de organização ou em função das pessoas que estão actualmente na estrutura?
FSF - O Sporting não tem lugares em função das pessoas e não cria lugares para pessoas. Tem um modelo organizativo que está publicado e é escrito desde o tempo do Dr. José Eduardo Bettencourt e é actualizado todos os anos. Foi, no ano passado, num encontro na Beloura e este ano voltará a sê-lo, nos princípios de Janeiro, na Academia com toda a estrutura do futebol e formação profissional. Daí nascem os modelos organizativos e a forma como nos queremos estruturar e preparar para o futuro.

R – Está prevista alguma mudança de fundo em termos de organização?
FSF – Estes encontros são modelos de reflexão. Há sempre propostas de alterações ao modelo organizativo. Posteriormente, vê-se se são aprovados ou não em função do debate, que é participativo.

R - Qual é a importância e contributo de Tomaz Morais nessas reuniões, sabendo-se que ele tem uma relação próxima com Paulo Bento?
FSF – O Tomaz Morais teve um acordo com o Sporting em que fundamentalmente organizou esses encontros, não só dos modelos organizativos como da componente psicológica e motivacional. Infelizmente, por compromissos que teve relativamente ao râguebi e à ida de Portugal ao Mundial e a problemas familiares, ao longo desta época não tem sido possível contar com a colaboração dele. Nesta altura, não há nenhum vínculo com ele.

R - Gostava de o ter como quadro do Sporting, sem ter de dispensá-lo à selecção de râguebi?
FSF - Nesta altura e pela forma como evoluiu a estrutura organizativa não sei se, tal como Sá Pinto, há cabimento para haver emprego em ‘full-time’ para uma pessoa com as qualidades e competências do Tomaz Morais. Mas podia haver uma plataforma para uma colaboração entre o Tomaz Morais e o Sporting.


Passivo, Cardozo e a CML:

RECORD – O que leva Rui Meireles, ex-director financeiro do clube que conhecia e conhece a realidade do Sporting, dizer que a venda de património não tinha abatido passivo?
FILIPE SOARES FRANCO – Tem de lhe perguntar a ele, não me pode perguntar a mim.

R – Mas se é tão claro, o que é que pode levar a essa dúvida?
FSF – É completamente claro e transparente! Não tenho nenhuma dúvida sobre aquilo que estou a dizer e o dr. Rui Meireles também não, porque foi ele que passou o cheque no dia a seguir. Ele sabe que amortizou 28.5 milhões do Project Finance e que 16.5 milhões foram para abater o défice de tesouraria, até porque ele confirmou na própria entrevista que havia um défice de tesouraria. Isso ele confirma?

R –O Sporting continua a ter défice de tesouraria? De quanto?
FSF – Tem. Tem? Vamos fazer as contas assim, para você perceber. Se o Sporting tivesse mantido o endividamento que tinha – 270 milhões de euros – à taxa de juro actual, isso é que era bom! Eu faço todos os empréstimos a 4,5 por cento, que é a Euribor. Em cima disso há o ‘spread’, que é o que os bancos aplicam? Agora, a Euribor está a 4,78 ou 4,79 e, em cima disso, há 2 por cento de ‘spread’ e o imposto de selo. Dá 7. Multiplique 7 por 270 milhões de euros e faça-lhe a conta? 19 milhões de euros de serviço de dívida, fora aquilo que tem que amortizar. Isso é só custo. A tesouraria é o que faz o desembolso e nós temos de desembolsar. E, no Project Finance, o Sporting é obrigado a pagar 27 milhões de euros se não conseguir renegociar a sua dívida. Ora, 27 milhões é mais de metade do total das receitas do Sporting. Portanto, enquanto o Sporting não conseguir reformular o seu refinanciamento terá sempre défice de tesouraria. O dr. Rui Meireles não deu novidade a ninguém, nem a ele próprio. O que fez foi, sabendo de tudo isto, mandar uma mensagem preocupante para os sócios. Só temos, salvo o erro, e não lhe quero mentir, 230 e tal milhões de euros de passivo. Tínhamos 270 milhões antes do património? Obviamente que temos défice de tesouraria mas porque existem desembolsos para fazer.

R – Está há uma ano e meio na presidência do Sporting e a um ano e meio de sair. Nestes 18 meses vai ter de renegociar essa dívida?
FSF – Estamos a renegociar essa dívida.

R – Esse processo vai ficar concluído até ao final do seu mandato?
FSF – Espero que sim!

R – Mas se não renegociar vai continuar a ter défice na tesouraria?
FSF – Sinceramente, espero que consiga! Mas as condições em que operamos não têm ajudado muito. E sabe porquê? Não é por falta de vontade e de iniciativa do Sporting. Dos dois bancos financiadores, infelizmente para todos, um tem passado por grande perturbação interna que não tem facilitado nada o processo de decisão. Isto dificulta muito os ‘timings’. Mesmo assim, acredito que vamos conseguir porque já conseguimos sensibilizar o BCP para a necessidade da reformulação.

R – O seu objectivo era chegar aos 150 milhões num ano?
FSF – Entre os 150 e os 170 milhões?

R – E está nos 200 milhões, com a Câmara?
FSF – Estamos em cerca de 230, mas espero que, em breve, a Câmara aprove o interface e o processo do loteamento. O protocolo com a Câmara diz que é em Março, portanto até Março. Se isso se concretizar, o endividamento baixará substancialmente e andará entre os 200 e os 210 milhões. A partir daí, temos de fazer uma operação que está na reestruturação da dívida, para baixar o passivo para os 150/160 milhões.

R – Aí será só engenharia financeira? O ‘naming’ do estádio, que chegou a ser opção, não é hipótese neste momento?
FSF – O estádio tem um ‘naming’: Estádio José Alvalade. Isso seria fazer mais uma rotura total com o passado, porque é tirar o nome do fundador e junta-lo a uma entidade que possa patrocinar... Para isso, é preciso que, culturalmente, o Sporting esteja preparado e não sei se está. Eu, pelo menos, não sinto que esteja. E ainda vai demorar algum tempo a mudar um conjunto de mentalidades, no fenómeno desportivo e associativo, não só no Sporting mas também noutros clubes.

R – Isso aplica-se também à alienação de acções da SAD? Chegou a dizer que era preciso mudar mentalidades?
FSF – Eu não disse que era a alienação. Eu disse que não era necessário ter a maioria de uma SAD para ter o domínio da SAD. São duas coisas completamente diferentes.

R – Estamos a falar do aumento do capital social da SAD?
FSF – Não estamos a falar de aumento de capital nenhum, eu não posso falar sobre o aumento de capital ?

R – Mas disse, no início da entrevista, que íamos falar de tudo?
FSF – ?

R – Um dos seus objectivos não era alienar 27 por cento do capital da SAD?
FSF – Até ficar com 51. Isso faz parte do plano de redução do passivo, mas não posso dizer nada sobre isso.

R – Não se pode, pelo menos, saber se já existem parceiros definidos?
FSF – Não posso falar sobre essa matéria.

R – E quando é que vai poder falar?
FSF – Quando estiver fechado. E comunicado à CMVM.

R – Quer dizer que já encontrou parceiros?
FSF – Não quer dizer nada. E não posso fechar isto sem ter o acordo dos bancos. O que tenho de dizer aos bancos é que chego aos 150 milhões de uma maneira? certo? E, depois, vamos partir dos 150 milhões. Portanto, primeiro tenho de fechar esta equação para depois chegar lá e vender isto. Só depois posso. Até lá não!

R – Porque é que em Dezembro de 2006 disse que a dívida chegaria aos 150 milhões em Junho de 2007? E porque é que houve esse atraso?
FSF – Facílimo! Tínhamos 50 milhões da venda de património, mais 30/35 dos projectos imobiliários. Isto faz 85 milhões. Se tivéssemos concretizado tudo isto na altura que disse, não tínhamos sofrido o desgaste da dívida financeira até hoje e não tínhamos sido penalizados pelo contínuo crescimento das taxas de juro. Depois, derrapámos também com a venda do património, porque primeiro foi chumbado. Só me deixaram vender sete ou oito meses depois? Tudo isto custou uma pipa de massa! A venda deste património deve somar qualquer coisa como 40 milhões. Se você puser, fazendo uma taxa média de 6 por cento, 30 milhões a 6 por cento, dá 1,8 milhões por ano. Se não forem 32 e forem 30, ponha-lhe 2 milhões? Passaram sete anos, faz 14 milhões sem a capitalização de juro. Se o fizer dá uns 16 milhões. Se lhe tirar os primeiros dois anos, que era o normal o projecto demorar na câmara até ser aprovado, temos, só de prejuízo directo, 13 ou 14 milhões de euros.

R – Isso é em relação à Câmara?
FSF – Não, não é em relação à Câmara. Isto são as razões pelas quais o Sporting não pode comprar o Cardozo. É importante a massa associativa perceber isto, e não estou a fazer censura aos outros clubes, atenção! Mas o FC Porto teve uma situação excepcional: o Plano de Pormenor das Antas foi aprovado em situações fantásticas e a Academia ou o centro de treinos foi dado. Não teve que investir. Portanto, o endividamento do FC Porto comparado com o do Sporting é comparar a estrada da Beira com a beira da estrada. E em relação ao Benfica? Fez os mesmos protocolos que nós com a Câmara mas recebeu-os em 2003. Antes do Euro. Foram lá e bancaram tudo. E, na altura em que falei da questão do pavilhão, o presidente do Benfica diz: ‘Vou estar atento se a Câmara der mais um euro ao Sporting do que ao Benfica’. Mas o Sporting, relativamente ao Benfica, já leva uma desvantagem de 12 milhões de euros por causa da derrapagem dos projectos na Câmara?

R – Mas, quando se candidatou, não acreditava que, nesta altura, já teria conseguido sanear as contas?
FSF – Acreditava! Mas passava-lhe pela cabeça que, em termos políticos, houvesse algum partido na Câmara de Lisboa, depois de o Sporting ter feito o que fez por Lisboa para o Euro’2004, ter sido o primeiro clube a fazer o seu estádio, ter sido o primeiro clube a fazer uma Academia, ter sido o primeiro clube a reformular e a reestruturar uma zona urbana que estava completamente degradada, ao fim de sete anos ainda não ter os seus projectos aprovados na Câmara? Passava-lhe pela cabeça que primeiro fosse o PS a não querer votar e agora é o PSD que umas vezes vota contra e outras vezes a favor? A mim não! Partidos que aprovaram tudo, na Câmara, no executivo, na Assembleia Municipal, que ratificaram protocolos, uma, duas, três, quatro vezes? Com uma instituição de utilidade pública, com tudo o que o Sporting já deu à cidade de Lisboa, não me passava pela cabeça?

R – E já lhe passou pela cabeça tomar uma medida radical em relação à Câmara?
FSF – Não sou capaz? Por uma questão de educação e formação não sou capaz? E às vezes tenho pena de não ser capaz? Já pensei várias vezes que não devo ser presidente do Sporting porque, enquanto for, não consigo alterar os meus padrões de conduta, a minha postura, os meus princípios e os meus valores. Agora, este país muitas vezes não está formatado para quem tem os meus padrões de conduta.

R – Acha que essa atitude faz mal ao Sporting?
FSF – Acho. Acho mesmo que faço mal ao Sporting. Se olhasse para a vida de outra maneira já tinha, pelo menos, agitado muito mais os problemas do que agitei.

R – Sente que há má vontade política contra o presidente do Sporting?
FSF – Não. Sinto que os interesses políticos se sobrepõem, muitas vezes, aos compromissos que as pessoas assumem.

R – Não querendo meter consigo, tem mesmo azar?
FSF – ?

R – Mas tem mesmo. Quer renegociar a dívida com a banca e o banco atravessa problemas. Deseja ver os projectos imobiliários aprovados e os elementos da Câmara não se entendem. Há eleições e de aprovação nada? Isto é muito azar?
FSF – Não. Tive mais azar ainda logo no princípio, não foi aí? Tive uma campanha do António Dias da Cunha a dizer que eu não devia vender património?

R – Era a posição do antigo presidente do Sporting?
FSF – ...

R – Houve mesmo uma tentativa deliberada de fazer cair Dias da Cunha?
FSF – Graças a Deus, tenho perfeitamente documentada e escrita a altura em que saí da administração da SAD e porque saí. Tenho a consciência totalmente tranquila sobre isso. E sei que disse na altura que gostava que ele fosse o presidente do centenário do Sporting. Portanto, não tenho qualquer problema sobre essa matéria.

R – Mas saiu das sociedades ?
FSF – Se estiver frontalmente contra um conjunto de decisões, se acha que vão prejudicar o futuro dessa mesma sociedade e se não tem capacidade de inverter essas decisões, a única coisa que pode pedir é que não o façam ser solidário com isso.

R – Mas não quer revelar essas decisões?
FSF – Se quisesse, tinha-o feito na altura. Mas o dr. Rui Meireles sabe. Garanto-lhes que sabe. Se ele quis dizer o que disse a responsabilidade é dele mas que ele sabe, sabe.

R – Qual é o passivo consolidado do Sporting?
FSF – À volta de 230 milhões de euros.

R – E como é que se chega a este passivo?
FSF – Os investimentos que o Sporting fez andaram à volta de 190 milhões de euros. Na Academia, no estádio, no Holmes Place, na clínica, no Alvalaxia? Houve projectos imobiliários que vendemos em conjunto como o Holmes Place, a Clínica CUF, o Alvaláxia e a sede. Projectos que, em termos de caixa, davam prejuízo ao Sporting. Fundamentalmente porque o Alvaláxia perdia dinheiro. O consolidado disto era um prejuízo acumulado ao longo dos anos. O arrastamento dos projectos da Câmara já nos custou 14 milhões de euros e nos primeiros anos a SAD perdeu muito dinheiro.

R – Se era para perder dinheiro porque é que se fez o projecto imobiliário?
FSF – Quando chega a um cruzamento tem sempre várias opções. Não conheço tudo em pormenor mas o projecto empresarial que o Sporting tinha e pôs no papel na altura em que constituiu a SAD – e que passava por uma empresa multimédia, um projecto de franchising e por estes projectos imobiliários – era rentável. Não consigo ir recuperar hoje os documentos que estiveram nessa origem mas o merchandising renderia hoje ao Sporting cerca de cinco milhões de euros por ano. O projecto multimédia rende zero e era para valer muito dinheiro pois íamos vender os conteúdos e uma série de coisas, coisas da economia não real que havia na altura. Mas a nova economia foi um flop em todos os mercados, países e continentes. A base de sustentação era essa e tudo isso aconteceu no Mundo. O projecto imobiliário assentava em dois projectos sólidos: o Holmes Place, que se veio a verificar que era; e a clínica CUF, que rendia muito menos porque não tivemos fundos para a acabar e foram eles que terminaram. Já o centro comercial foi feito por causa do Euro 2004 – o estádio era para ter para 40 mil lugares e um pavilhão. Hoje em dia, nem temos um estádio com 40 mil lugares nem um pavilhão. Hoje, um estádio de 40 mil lugares serviria perfeitamente os interesses do Sporting e era excelente que tivéssemos um pavilhão? Mas isso não censuro. De todo! Estou a constatar factos e eu não censuro as opções tomadas porque, quando foram feitas, tinham fundamento. Essa coisa de acertar no totobola à segunda-feira é porreira, mas ninguém sabe o futuro. Os dirigentes do Sporting eram pessoas superiormente inteligentes, com boas visões estratégicas. O dr. José Roquette já fez empresarialmente coisas muito melhores do que eu. Não creio que não acreditasse na visão que estava a ter do negócio. E quando decidiu, fe-lo bem. O único erro que foi cometido foi passar o estádio dos 40 para os 50 mil lugares porque está provado hoje em dia que não se constrói um centro comercial sem ter um operador na mão. É exactamente como fazer um hotel: se quer vender um hotel já necessita ter a cadeia garantida. Acabámos por ter de ser nós a explorar o centro comercial?

R – Em termos práticos quanto é que o Sporting perdeu?
FSF – 50 milhões de euros, contas redondas.

R – Considera que há má vontade?
FSF – Não. É jogo político. Não é incompetência política. É jogo político puro.

R – Mas porque é que o Sporting não toma uma posição de força?
FSF – Porque o Sporting tem um mau presidente. Tem um mau presidente para defender essas causas, porque se eu fosse?

R – Quais são os princípios que um presidente deve ter para essas causas irem para a frente?
FSF – Maus princípios de conduta.

R – Existe concorrência desleal?
FSF – Se quiser exercer pressão política séria e se quiser utilizar uma instituição de utilidade pública como o Sporting como arma, com a capacidade de mobilização que o Sporting tem, e fazer disto uma arma de arremesso político, consegue. Mas comigo não! Garanto-lhes que um presidente do Sporting, no dia em que sentir que a Câmara o está deliberadamente prejudicar, se quiser mobilizar uma manifestação em frente aos Paços do Concelho, organiza à vontade!

R – Já pensou nessa hipótese?
FSF – Não consigo. Não faço isso porque não corresponde à minha forma de estar na vida. As coisas têm de ser resolvidas pelas entidades competentes, com princípios e valores de bem. É bom que na vida não seja preciso socorrermo-nos destas armas para resolvermos aquilo que nos devem e que devem resolver. Não vou utilizar essas armas.

R – É uma pessoa desiludida com os políticos em Portugal?
FSF – Não se pode generalizar. Não sou um desiludido com os políticos em Portugal. Sou um desiludido com alguns políticos?

R – ?Com os da Câmara de Lisboa?
FSF – Não tenho razões de queixa de nenhum dos presidentes da Câmara ao longo do processo de loteamento. Todos se portaram impecavelmente bem. De qualquer modo, eles são presidentes da Câmara, não são um partido que está dentro da Câmara. Mas tive algumas desilusões com o PS e com o PSD

R – O que é que já foi feito em termos de reorganização empresarial do Sporting?
FSF – O Sporting tinha quatro directores-gerais, hoje tem um. Tinha mais cerca de 30 funcionários e uma série de actividades, nomeadamente na área da comunicação, que eram negativas e que hoje estão equilibradas. Tinha também um sistema informático que não funcionava e que está em vias de corresponder às necessidades que o clube tem.

R – Quanto é que esta estrutura custa menos do que a anterior?
FSF – 1.1 milhões de euros por ano.

R – Quando é que espera que o Sporting fique financeiramente estável?
FSF – Espero que, até Junho, o Sporting fique financeiramente estável. Espero? Mas isso não depende de mim. Nós fizemos tudo! Comprometi-me a vender o património, vendi; comprometi-me a lutar para que os projectos imobiliários fossem aprovados e estão a ser; comprometi-me a reestruturar e reorganizar o Sporting, já o fiz; falta-me agora concretizar dois projectos: fechar o problema financeiro do Sporting e propor a construção de um pavilhão.

R – Falou nos 230 milhões de passivo. Tem alguma meta para o eliminar?
FSF – Até Junho de 2008, espero reduzir para os 150/160 milhões de euros.

R – E eliminá-lo na totalidade?
FSF – Isso é uma equação surreal – há sempre um montante de dívida que se consegue suportar e, depois, porque o património tem sempre o seu valor. Não serve para nada estar a pagar impostos em vez de juros. O dinheiro vai sempre para o mesmo lado. É preferível não fazer o esforço financeiro de alavancar a actividade para pagar endividamento e canalizar esse esforço para uma equipa mais competitiva e que obtenha melhores resultados.


Racionalismos vs ecletismos:

R – As modalidades do Sporting estão em perigo?
FSF – Não! O problema não está aí. O problema está no que os sportinguistas querem que o Sporting seja. Entre 80/90 por cento das receitas que o Sporting gera estão ligadas ao futebol. Só há uma margem de 10/15 por cento que estão ligadas às modalidades. Não só às modalidadas mas ao universo do Sporting. Depois, o clube tem uma série de outros custos para suportar: o museu que custa dinheiro, a estrutura do Conselho Directivo, relações públicas, secretárias? Tem também uma estrutura de núcleos... O que acontece é que as modalidades, no seu todo, não dão dinheiro, dão prejuízo. A partir daqui passa por uma decisão dos sportinguistas. A especialização implica rentabilização e o Sporting não pode ter modalidades de alta competição se não forem rentáveis, porque significa que estamos a tirar dinheiro bom para colocar em cima de problemas. Não consigo resolver nenhum problema mandando dinheiro bom para cima do problema. Isso é escamotear o problema! O Sporting perdia, em média, 10 milhões de euros por ano em média.

R – Isso era devido às modalidades?
FSF – Era devido à estrutura que tinha. Não tinha feito o novo estádio, não tinha uma Academia, não tinha feito os investimentos que fez. Não digo que vou acabar com o ecletismo, mas também não vou decidir sobre essa matéria. A alta competição no Sporting tem de ser para competir e ganhar. Ou se tem alta competição para competir e para ganhar – e deve-se ter –, e elas têm ou devem ser autosustentáveis, ou senão o que é que estamos a fazer: a tirar dinheiro da formação para pôr nessas modalidades, a tirar dinheiro do futebol profissional para pôr nessas modalidades, a tirar dinheiro da quotização para pôr nessas modalidades? No fundo, é mandar dinheiro para cima de um problema. Depois, temos outro tipo de modalidades, as modalidades onde temos competição e praticantes como a ginástica, a natação ou o karaté.

R – Essas são autosustentáveis?
FSF – Essas são “superhabitárias”. Os praticantes pagam. O Sporting, quando nasceu, foi fundado para fomentar o desporto, para ter praticantes. Não nasceu para ter atletas profissionais. Agora, é uma equação que eu não vou decidir?

R – Mas pretende fazer um referendo sobre as modalidades?
FSF – Não!

R – Mas então como é que os sportinguistas vão decidir?
FSF – No dia em que tiver o clube devidamente estruturado, vou apresentar as contas a todas aos sportinguistas numa Assembleia Geral e eles vão saber directamente o que cada uma custa. A partir daí, vão começar a formular uma opinião?

R – Existe alguma modalidade de alta competição que se autosustente?
FSF –Não, nem o próprio futsal.

R – Qual a solução?
FSF – O futsal está a caminho do equilíbrio. Mas há uma modalidade que o Sporting não vai acabar seguramente nunca, que é o atletismo.

R – O Sporting já fez um apelo ao Governo referente ao atletismo. Como é que está essa situação?
FSF – O Sporting é o clube que até mais medalhas deu a Portugal no atletismo. Cinquenta por cento das vezes que estes atletas correm, competem com a camisola da Selecção Nacional e são pagos pelo Sporting e não pela Selecção. O Governo tem um papel fundamental no fomento e na dinamização do atletismo de alta competição no país. É completamente inaceitável que não tenhamos Em Lisboa uma pista coberta. Com os campeões que temos produzido em pista coberta nas várias modalidades, é inaceitável que o Governo não possa sacrificar do meio dos seus orçamentos 15 ou 20 milhões de euros para fazer uma pista coberta. As medalhas que Portugal ganhou em pista coberta valem muito mais do que os 15 milhões de euros de investimento que depois pode ser autosustentado.

R – Há uma dívida moral relativamente ao atletismo do Sporting?
FSF – Sim. O Governo tem essa dívida moral, que nunca conseguirá pagar. Nem que faça hoje uma pista coberta em Lisboa!

R – O Sporting também tem uma dívida moral com a história e tradição do hóquei em patins no clube?
FSF – Como podia ter com o ciclismo? Mas o Sporting tem hóquei em patins de formação, não tem de competição mas tem de formação.

R – Como é que se entende que João Lagos, conhecido sportinguista, patrocine a equipa de ciclismo do Benfica e não do Sporting?
FSF – Porque os projectos empresariais não se decidem em função da cor da camisola. Decidem-se em função dos projectos que são apresentados. O Sporting não apresentou ao João Lagos nenhum projecto de ciclismo.

R – Porquê? Não considera que poderia ser rentável?
FSF – Não sei se pode ser rentável ou não. Não tenho as contas do Benfica. Duvido que o projecto de ciclismo do Benfica seja rentável, mas admito que até possa ser. O ciclismo é uma modalidade extremamente popular e se o Sporting pudesse encarar algum dia o ciclismo como modalidade devia fazê-lo. É preciso alguém dentro do Sporting que possa pilotar esse projecto, levar esse projecto para a frente. O ciclismo leva o Sporting a todos os pontos de Portugal. A Volta a Portugal tem grande popularidade. Pude assistir a duas etapas na última edição e fiquei fascinado, mas nesta altura não temos nenhuma estrutura interna para respondermos a esse tipo de desafio. Enquanto não sentir o Sporting financeiramente estável não avanço para mais desafios que possam pôr em risco a estabilidade financeira do clube.


Alianças com Porto, Benfica, análise do Apito Dourado e Vitor Pereira:
RECORD – Como estão as relações do Sporting com o Benfica e com o FC Porto?
FILIPE SOARES FRANCO – As relações com todos os clubes, à excepção do Nacional, são relações institucionalmente correctas e saudáveis.

R – Normalmente, nunca há equidistância em relação aos outros dois grandes. Neste momento há?
FSF – Julgo que sim. Da minha parte há o respeito e consideração por eles como concorrentes e adversários. De certa maneira e por uma questão de história, haverá mais rivalidade com o Benfica, muito embora o FC Porto seja o clube com mais títulos conquistados nos últimos anos e ser o adversário a superar em termos de êxitos desportivos, mas não vejo razão para não existirem relações correctas.

R – Mas almoça publicamente com o presidente do Benfica e não o faz com o presidente do FC Porto. Há alguma razão especial para isso?
FSF – Almocei com o presidente do Benfica a solicitação de um jornal que queria fazer um número sobre o centenário do dérbi e, por acaso, até jantei com o presidente do FC Porto, quando o Sporting foi ao Dragão.

R – De qualquer modo, o presidente Filipe Soares Franco não parece muito atreito a alianças. Por que razão?
FSF – Porque neste mercado, neste negócio, não tem de haver alianças quando não há razões para as fazer. No meu mercado, o da construção, temos de fazer alianças, às vezes porque há que fazer consórcios para concorrer a determinada obra. Neste caso, não há nada que me obrigue a uma aliança com A, B ou C, porque sou sempre um concorrente directo dele.

R – Acredita, então, nos manifestos como aquele que foi feito entre Dias da Cunha e Luís Filipe Vieira?
FSF – Isso é completamente diferente. O manifesto tinha um único objectivo, o de lutar pela transparência do futebol. Só não foi um êxito, porque houve muitos clubes que não aderiram ao manifesto. Não antevejo que nada no futebol português se faça verdadeiramente sem probabilidade de retrocesso ou desvios nos seus objectivos se não englobar de uma forma sincera, verdadeira e transparente os três maiores clubes de Portugal.

R – Foi um dos grandes defensores da Taça da Liga. Está a corresponder às suas expectativas?
FSF – O modelo organizativo, totalmente. O calendário, totalmente. A forma como algumas equipas encararam a prova, obviamente não.
R – Está a referir-se ao FC Porto e ao Benfica?
FSF – Se nós chegássemos a esta altura e tivéssemos em prova o Sporting, o Benfica, o FC Porto e o Sp. Braga ou o V. Setúbal ou o V. Guimarães?

R – Quer dizer que vai bater-se pela alteração das regras da prova, obrigando as equipas?
FSF – Não, não, não? Porque isso depende da gestão que cada equipa entende fazer do seu plantel e da importância que dá à Taça da Liga. Agora, terei uma enorme alegria se o Sporting ganhar a primeira Taça da Liga. Ficará na história. Terei imenso orgulho.

R – Mas vai rever a forma de encarar a Taça da Liga na próxima época?
FSF – Eu? Eu não.

R – É a favor de o vencedor ter acesso a uma competição europeia?
FSF – Para isso, a Taça da Liga tem de ter currículo. Sem currículo não se consegue fazer nada. Não é regulamentando internacionalmente e impondo uma regra para a Taça da Liga que nós vamos descobrir se ela é ou não importante para a competitividade das equipas portuguesas.

R – Está satisfeito com a actual direcção da Liga de Clubes?
FSF – Com a direcção da Liga, de uma forma geral, estou e estou de acordo até com as normas e com os projectos que o Dr. Hermínio Loureiro tem posto em cima da mesa. Com todos os órgãos da Liga não estou e, por vezes, isso faz-me ter algumas opiniões, sobretudo no campo da imagem da Liga e da actuação do próprio presidente, que não tem autoridade nem responsabilidade sobre as áreas disciplinar e de arbitragem.

R – Mas acha que devia ter?
FSF – Não, não? Mas tem de pugnar para que a Liga seja um órgão exemplar nas várias decisões que toma. Portanto, quando faz a sua lista tem de ter a certeza absoluta de que está a escolher pessoas que têm os mesmos padrões de conduta, valores e princípios e que vão actuar da mesma forma que ele actua.

R – Considera que ele não conhecia bem as pessoas?
FSF – Eventualmente.

R – Está desiludido com a actuação de Vítor Pereira?
FSF – Estou. Mas fundamentalmente? Vou repetir isto, porque já o disse várias vezes? Primeiro, não tenho nada contra o senhor Vítor Pereira, até porque acho que não o conheço pessoalmente. Sou capaz de o cumprimentar, se o encontrar, mas não o conheço pessoalmente. Sobretudo, no que estou extremamente desiludido com ele é com a dualidade de critérios que ele tem tido ao longo desta época. E isso preocupa-me.

R – Quer dar uns exemplos?
FSF – Não vale a pena. São sobejamente conhecidos.
R – Ainda não conseguiu ganhar a sua batalha de criar um organismo autónomo para a arbitragem?
FSF – Mas vou ganhar. Mas vou ganhar. Estou convencidíssimo que vou ganhar. Porquê? Estou convencido.
R – Como vê a esta distância o processo Apito Dourado?
FSF – É um caso que foi espoletado pelo Sporting, com muito mérito do Dr. Dias da Cunha, e do qual se desligou no dia em que o processo foi aberto pela Justiça. Considerei que a Justiça tinha de ter o seu espaço de manobra sem ser pressionada para realizar a sua tarefa. Como os portugueses em geral, eu também estou desiludido com o tempo que se tem demorado a avaliar as consequências do Apito Dourado. Espero, tal e qual como prometeram, que fique concluído em tempo oportuno no decorrer desta época. É um processo que tem duas áreas de actuação: a desportiva que se prende com as consequências desportivas sancionadas ou não pelos órgãos da Liga e da Federação, e a da justiça propriamente dita, que é a área criminal e que não me compete a mim avaliar.

A Academia e a formação de jovens valores:

RECORD – Os talentos não ficam mais do que uma época nos seniores e saem com cláusulas de 25/30 milhões. Será preciso começar a negociar essas cláusulas para os 50 milhões?
FILIPE SOARES FRANCO – Saem todos! Saem todos! Saem todos!

R – Mas, se tiverem uma cláusula de 50 milhões…
FSF – A cláusula é negociada, não é imposta. Quando se faz um contrato com um jogador, ele tem de ser negociado. Ou julgam que há algum jogador com 18 anos que aceita uma cláusula de rescisão de 50 milhões de euros?

R – Então, como mantê-los mais tempo?
FSF – Não é possível. Se aparece cá alguém e bate a cláusula de rescisão, não é possível.

R – A aposta terá de ser claramente na formação. O Sporting tem de formar cada vez mais jogadores como Nani, Simão ou Quaresma para poder tornar-se competitivo. Não há outra forma. Ou há?
FSF – Há, a forma de ter equipas competitivas e criar mais receita no futebol. E o meio de criar mais receita é, nomeadamente, os clubes terem mais adeptos e assistências nos jogos. O futebol em Portugal já só pode crescer através das receitas. Nós, no Sporting, não podemos reduzir mais custos na área do futebol para nos rentabilizarmos. Temos de crescer é nas receitas. E isso é um trabalho ciclópico que temos pela frente. Todos!

R – Há outros valores emergentes na Academia. Quais são, neste momento, as preocupações do Sporting, tendo em vista as cláusulas de rescisão e a garantia de activos a longo prazo?
FSF – A minha preocupação no Sporting é precisamente não revelar quem são esses talentos, para que não digam que estão a ser cobiçados [risos]…

R – Há um nome incontornável e que já é cobiçado, que é o Adrien Silva.
FSF – Desconheço.

R – Mas, não é uma preocupação da administração da SAD?
FSF – Renovar é. O Adrien é um talento em embrião. Tem muito, muito, muito para trabalhar, antes de ser um senhor jogador. Acreditamos nele, mas daí a dizer-se que ele já está a ser cobiçado e que vão pagar e que vão fazer…

R – Rui Patrício já é um valor mais seguro?
FSF – Tem 19 anos. Como guarda-redes tem muito para crescer. Se fosse o Stojkovic a fazer o que o Rui Patrício tem feito, se calhar tínhamos outro tipo de reacção. Mas é natural, ele tem 19 anos.

R – O Sporting teve um protocolo de cooperação com o Manchester United. Colheu alguns benefícios práticos desse acordo?
FSF – Que eu conheça, não houve um grande benefício desse protocolo mas colhemos uma coisa positiva: uma excelente relação com o Manchester United.

R – Mas nada ficou beliscado com esta última polémica?
FSF – Da minha parte, não. E creio que da parte do CEO do Manchester, do administrador delegado e do presidente executivo, também não.

R – Houve também um protocolo que acabou por não dar em nada com o Roeselare, que previa a ida de jogadores no âmbito da formação…
FSF – Vocês sabem mais coisas do Sporting do que eu [risos]…
R – Mas admite fazer acordos na América do Sul e África?
FSF – Temos, no papel, um projecto de internacionalização da Academia que gostávamos de levar à prática. Mas isso implica criar dentro da SAD uma estrutura completamente autónoma e dedicada a esse projecto.

R – África é um filão que gostaria de explorar?
FSF – Não só. Hoje em dia não é só África. Precisamos de ter consciência de que, para recrutar novo e bom, dentro das nossas capacidades, temos mais hipóteses nos países ditos emergentes do que em países desenvolvidos onde o bem-estar é outro, onde os clubes estão bem implantados com observadores, formação…

R – Uma Academia em Angola chegou a ser ou é uma hipótese?
FSF – Foi um projecto que esteve no papel. Em termos conceptuais, a ideia foi-nos apresentada mas nunca chegou a ser implementada porque, para isso, seja em que país for, é preciso um parceiro local disposto a investir e alguém que esteja ligado a três valores muito importantes: a língua, a percepção do Direito e a noção de inserção numa comunidade. Enquanto não dominarmos estas variáveis não estamos seguros e a única forma de o fazer é ter um parceiro local.

R – Essa estrutura vai arrancar?
FSF – Falta o tal encontro de quadros do clube em Janeiro.
R – Hoje em dia contrata-se cada vez mais cedo. Há uma questão relacionada com aquele miúdo de Braga que tem 8 anos e não pode jogar, porque o Benfica e o Sporting estão em guerra…

FSF – Desculpe, não há guerra nenhuma! O Sporting tinha um protocolo com os pais da criança, que previa a vinda dele para a Academia quando tivesse idade para o fazer. Até lá era jogador da Bragafut, competia pelo Bragafut e, eventualmente, viria à Academia realizar uns estágios e participar em alguns torneios. A situação do Benfica é diferente porque o Benfica inscreveu esta época o rapaz como seu jogador. A validade do contrato é só de um ano. É um problema entre o Benfica, o Bragafut e o rapaz.

R – Como vê a concorrência a este nível? O Benfica e o FC Porto estão, também, mais despertos e a apostar muito nesta área…
FSF – É com enorme orgulho que vejo o Benfica e o FC Porto a procurarem conhecer as melhores práticas do Sporting, montando projectos e tentando melhorá-los. Aí temos uma grande vantagem competitiva porque existe uma organização bem estruturada, profissional e competente montada há muitos anos. Por isso, acredito que, durante alguns anos, vamos conseguir vencer nessa competitividade.

R – Não sente minimamente ameaçada essa supremacia?
FSF – Sinto. Por isso, temos de fazer mais e melhor.

R – A criação de Academias com a marca Sporting espalhadas pelo país foi mais um passo que lhe permite estar à frente da concorrência?
FSF – Essa foi uma das decisões produzida num dos encontros em que reunimos as equipas de formação e a profissional. Chegámos à conclusão que, para manter o caminho vitorioso, era preciso enraizar essa pesquisa e recrutamento de forma mais sólida no País. Lançámos esse projecto, no ano transacto, com experiências piloto e este ano estamos a dinamizar. Aliás, o FC Porto quer implementar qualquer coisa do género com a marca “Dragon”...

Modelo a seguir:

RECORD – Que clube europeu serve de modelo ao Sporting?
FILIPE SOARES FRANCO – O Sporting tem o seu projecto próprio, que é muito distinto da realidade dos outros clubes europeus, até porque estes vivem noutras sociedades, com outra cultura e com outros padrões de vida. Há alguns anos, dizia-se que o Sporting tinha de se inspirar no Ajax pela afinidade em termos de formação, mas o Ajax não tem sido, nos últimos anos, o clube vencedor da Holanda, que tem estado sempre na Liga dos Campeões…

R – Para José Roquette, o clube modelo era o Manchester United…
FSF – Não digo que não seja um clube modelo, mas é outra realidade. O Manchester United não tem sócios, só tem accionistas. Praticamente só tem uma modalidade. É uma grande organização, eficiente, muito bem gerida e com uma maximização total das receitas. Pertence, porém, a outro campeonato e a outro negócio. O Manchester United, se foi comprado, não foi com muitos capitais próprios. Não se bancou o dinheirinho… Se pensarem no grupo Sporting, na SAD e na dívida consolidada adaptada ao Manchester, e se for apurar a dívida dos ingleses, terá uma grande surpresa..

R – Qual é o clube do campeonato do Sporting que pode servir como modelo?
FSF – Daqueles que eu conheço, o mais parecido é o Lyon. E considero que o Ajax tem muitas afinidades. Embora o Lyon seja também outra realidade, é uma instituição que aposta na formação, é bem gerida, organizada e está numa área metropolitana mais parecida com a nossa.

R – O Sporting já foi estudar como funciona o Lyon?
FSF – Já visitámos o Lyon e, mais recentemente, o Ajax. Perceberam-se as vicissitudes dos holandeses e como é que o Ajax superou alguns problemas. Conseguiu-o muito à conta dos patrocínios que obteve, nomeadamente do banco ABN, que é o grande financiador e impulsionador do futuro do clube.

R – É com base nesse tipo de modelos que o Sporting tem recrutado jogadores muito novos em detrimento de futebolistas seniores já feitos?
FSF – É por uma questão prática. Enquanto tivermos as taxas de juro e a dívida que temos no país, não podemos libertar dinheiro para determinados investimentos e para aumentar a massa salarial. Por isso, é importante num projecto desportivo dar machadadas na dívida em alturas de crise. Se conseguirmos ser o clube equilibrado que fomos nos últimos anos, esse dinheiro pode ser canalizado para o projecto desportivo.


"Não quero imitar o benfica":

RECORD – Perante uma conjuntura desportiva algo desfavorável, como pensa mobilizar as pessoas tendo em conta a estratégia de atingir os 100 mil sócios a curto prazo?
FILIPE SOARES FRANCO – Há uma única mensagem a passar. Primeiro, embora nós possamos fazer tudo para ganhar, nem sempre se ganha. Segundo, o Sporting tem que ser vivido com alguma emoção e muita paixão. E, depois, a equipa será tanto melhor e corresponderá tanto melhor, quanto mais for apoiada.

R – Quando pretende atingir os 100 mil sócios?
FSF – Gostava que isso acontecesse no ano de 2008.

R - O importante é como os captar…
FSF - É verdade e aí temos de fazer exactamente o que o FC Porto e o Benfica fizeram em relação ao futebol de formação do Sporting, isto é, analisar aquilo que foi feito pelos nossos directos concorrentes e por outros concorrentes na Europa.

R - Pode optar por imitar o projecto do kit do Benfica?
FSF – Não posso, não devo e não quero imitar o projecto do kit do Benfica, mas não me importo nada de reconhecer que tenho de me inspirar numa campanha tipo kit do Benfica por forma a promover um projecto com melhorias relativamente a esse.

R - Depois dos contactos que tem mantido com os núcleos, grupo Stromp e outras organizações ligadas ao clube, continua a considerar que o Benfica é maior do que o Sporting?
FSF - Em termos de adeptos e sócios, é maior do que o Sporting. O Sporting ainda não conseguiu passar dos 85 mil sócios, enquanto o Benfica tem registados mais do que esse número e diz que são mais de 150 mil. Nessa área, não há como negar. O que temos de pensar é em procurar ser melhores do que os nossos adversários. No dia em que formos melhores, teremos a grande oportunidade de sermos maiores. Nesta altura, não somos maiores, muito embora em vários segmentos de mercado sejamos melhores.


O problema somos nós:

R – Como analisa reacções como a da Juventude Leonina?
FSF – Não admito por uma questão cultural, de padrões e princípios de vida. As claques que têm protocolos com o Sporting são ajudadas para apoiarem o Sporting. Não patrocinamos claques para irem vaiar jogadores...

R – Que tipo de ajudas dá o Sporting às claques?
FSF – Facilita-se bilhetes, têm retorno sobre os sócios que angariam, sede no clube e uma série de facilidades. Têm também um número de bilhetes quando há uma final da Taça e, quando vão com o clube ao estrangeiro, têm um determinado número de bilhetes salvaguardado.

R – Suspendeu esse apoio depois dos últimos incidentes?
FSF – Não. As claques têm multas conforme as atitudes que tomam.

R – Portanto, foram multadas…
FSF – É um regulamento que está a ser aplicado. Mas estou convencido que o problema não é propriamente das claques mas de alguns grupos de pressão que estão à margem e que, quando estas estão mais fracas, aproveitam-se delas para tomar um conjunto de atitudes que não são meritórias. E não são meritórias porque as pessoas não dão a cara.

R – Quer revelar algum rosto desses grupos de pressão?
FSF – Não.

R – Mas sabe quem são?
FSF – Claro que sim! Ou achamos que sabemos… Os grupos de pressão são como os bloguistas. Não aceito bem que pessoas escrevam com base no anonimato. Tenho total desprezo por quem escreve sob o anonimato. Não leio blogues, nem tenho tempo...

R – Devolver a camisola do capitão do Sporting é já uma situação limite…
FSF – O João Moutinho já respondeu a essa questão. São os jogadores que têm de reagir sobre o que lhes vai na alma. Não compete ao presidente do Sporting fazer muitos mais comentários depois do que o capitão do clube fez sobre essa matéria.

R – Mas é o próprio clube que está em causa…
FSF – O João Moutinho já disse tudo o que havia para dizer sobre essa matéria.

R – Já recuperou a confiança no Conselho Leonino?
FSF – Essas afirmações têm a ver com uma única situação – uma informação que entendi que devia dar ao Conselho Leonino sobre o despedimento colectivo que se estava a preparar. Essa informação saiu no dia a seguir nos jornais. Teve a ver com isso.

R – Existe a possibilidade de se formar uma espécie de Conselho Geral em detrimento do Conselho Leonino?
FSF. – Não. Já várias vezes se falou no Conselho Leonino, no Conselho Directivo e até já se falou em termos de Assembleia Geral que devia haver uma reformulação do regulamento do Conselho Leonino e dos Estatutos. Essa incumbência foi dada ao presidente do Conselho Leonino, que é o presidente da AG. Não me meto nessa matéria. Não quero regular os estatutos do Sporting.

R – Mas é necessária essa reformulação?
FSF – É preciso haver uma actualização. Faz sentido. Não tenho problema nenhum em ter o Conselho Leonino que tenho, nem tenho problema nenhum de o Conselho Leonino ser eleito pelo método de Hondt. Não tenho problema nenhum sobre essa matéria… No entanto, penso que, a partir do momento em que há eleições, existem órgãos sociais que ganham e, em princípio, não deveria existir oposição dentro desses órgãos.

R – Sente essa oposição?
FSF – Não. Vivo bem com ela. Não tenho qualquer problema com isso.

R – Liga esses grupos de pressão a elementos de oposição do Conselho Leonino?
FSF – Não tenho esse tipo de problema na vida, falo com toda a gente. Não houve nenhum elemento do Conselho Leonino que me tenha pedido um esclarecimento que não tenha dado, que não tenha tido toda a informação. Ninguém nesse órgão que possa repreender-me por ter faltado eticamente aos meus deveres e obrigações.


1906

Luta & Resiste